Uma pesquisa do Instituto Locomotiva ganhou espaço em veículos de alcance nacional ao apontar que 85% dos brasileiros “defendem a regulação das redes sociais”. O dado, divulgado em 3 de setembro de 2025, virou manchete em emissoras de TV e portais de notícia, entre eles a CNN Brasil. No entanto, a redação dos títulos publicados omitiu o elemento central da pergunta feita aos entrevistados: a menção expressa à proteção de crianças e adolescentes.
O que dizia exatamente a pesquisa
O questionário aplicado pelo Instituto Locomotiva apresentou a seguinte proposição aos entrevistados: “É importante existir uma legislação que regule as redes sociais para proteger crianças e adolescentes.” Ao responderem a esse enunciado, 85% declararam concordar totalmente ou em parte. O levantamento não abordou outros aspectos de regulamentação — como critérios de moderação, responsabilização de plataformas ou filtros de conteúdo político.
Apesar disso, os títulos das reportagens difundidos em diferentes plataformas resumiram o resultado a um genérico “regulação das redes sociais”. O subtítulo, em alguns casos, limitou-se a dividir o apoio por perfis ideológicos, sem detalhar a premissa da proteção infantil. Dessa forma, o leitor que se atém apenas ao topo da matéria — prática comum, segundo institutos de medição de audiência digital — fica com a impressão de que a população endossa qualquer projeto regulatório sobre internet.
Impacto da ausência de contexto
A simplificação do dado numérico cria ambiente favorável a propostas legislativas mais amplas, algumas já em tramitação no Congresso Nacional. Entre elas, há projetos que transferem às plataformas a obrigação de remover conteúdos considerados nocivos sem necessidade de decisão judicial. Especialistas em direito digital alertam que formulários vagos, se aprovados, podem abrir brechas para controle prévio de publicações, prática vedada pela Constituição por configurar censura.
Casos recentes de crimes contra menores praticados no ambiente virtual motivaram a inclusão do tema da infância no debate. Entretanto, investigações concluídas mostraram que a legislação penal vigente foi suficiente para identificar e punir os responsáveis. Para analistas do setor de tecnologia ouvidos em audiências no Senado, a prioridade seria aprimorar a atuação das autoridades de segurança pública, em vez de ampliar o poder de moderação estatal ou privado sobre o conteúdo de usuários.
Como a informação circulou
A distribuição do press release do Instituto Locomotiva ocorreu na primeira semana de setembro. Vários portais publicaram a manchete em formato quase idêntico, citando apenas o percentual e a expressão “regulação das redes”. Poucos mencionaram que a pergunta continha o recorte de proteção a menores de 18 anos, elemento essencial para compreender o alto grau de concordância.
Além disso, não foi detalhado como se deu a coleta dos dados — quantidade de entrevistados, método de amostragem ou margem de erro. Esses pontos costumam ser informados em relatórios técnicos, mas nem sempre são reproduzidos na cobertura jornalística, o que dificulta a avaliação crítica do público.
Possíveis desdobramentos no Congresso
Parlamentares favoráveis a um marco regulatório mais rígido usam pesquisas dessa natureza para sustentar seus projetos. Já deputados e senadores que defendem a liberdade de expressão argumentam que a redação das perguntas influencia diretamente as respostas. Para esses legisladores, misturar o conceito de proteção infantil com normas de moderação de conteúdo político pode distorcer o debate e gerar leis que extrapolem o objetivo inicial.


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Imagem: Andres Ballesteros
Enquanto isso, propostas como o chamado “PL das Fake News” seguem sendo discutidas em comissões temáticas. O texto atual cita punições em caso de “ataques ao Estado Democrático de Direito”, expressão que, na avaliação de críticos, pode alcançar desde publicações que defendam rupturas institucionais até simples manifestações contrárias a políticas públicas.
Transparência e responsabilidade
Entidades da sociedade civil cobram que institutos de pesquisa divulguem integralmente os questionários e as fichas técnicas, a fim de permitir auditoria independente. Do lado dos veículos de comunicação, associações de imprensa recomendam que manchetes reflitam o escopo real das perguntas para evitar interpretações equivocadas.
Quando dados parciais chegam ao público, cresce o risco de se formar consenso artificial sobre temas complexos. Nesse cenário, decisões legislativas podem avançar sem o devido escrutínio, afetando diretamente a dinâmica das redes sociais e a liberdade de expressão dos usuários.
Para acompanhar outros desdobramentos legislativos relacionados à regulação digital, visite a seção de Política do nosso portal.
Em resumo, a pesquisa do Instituto Locomotiva indica apoio maciço a uma lei para proteger menores nas redes. Contudo, a forma como os dados foram divulgados generaliza o resultado e pode ser usada para justificar propostas abrangentes de controle de conteúdo. Fique atento, compartilhe informação completa e acompanhe nossos próximos artigos para saber como o tema evolui no Congresso.
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