No mês passado, um avião cargueiro russo modelo Ilyushin IL-76, operado pela empresa Aviacon Zitotrans — alvo de sanções do governo dos Estados Unidos desde 2023 — permaneceu três dias no Aeroporto Internacional de Brasília. Documento obtido por meio da Lei de Acesso à Informação revela que a Força Aérea Brasileira (FAB) permitiu o pouso por “missão diplomática” solicitada pela Embaixada da Rússia e chancelada pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Pouso autorizado e permanência de 72 horas
De acordo com a resposta encaminhada pela Aeronáutica, a autorização foi concedida em 10 de agosto. A FAB confirmou que estavam a bordo 12 tripulantes e quatro passageiros, mas omitiu qualquer detalhe sobre a carga transportada. O Ilyushin IL-76, frequentemente usado para levar equipamentos militares como peças de foguete e drones, chegou a Brasília às 8h12 após escala em Conacri, capital da Guiné. A permanência no terminal brasileiro foi solicitada pela representação diplomática russa e durou cerca de 72 horas.
O silêncio oficial sobre o conteúdo do porão alimentou questionamentos no Congresso. Para o senador Marcio Bittar (União-AC), “é indispensável saber se houve entrega ou retirada de material sensível”. O colega Eduardo Girão (Novo-CE) também protocolou requerimento ao Ministério da Defesa pedindo transparência sobre o assunto.
Rota internacional e destino final na Venezuela
Dados de rastreamento de voo mostram que o cargueiro partiu de Moscou em 7 de agosto. No trajeto até o Brasil, fez escalas em Baku (Azerbaijão), Argel (Argélia) e Conacri. Após deixar Brasília, o IL-76 seguiu para Caracas, na Venezuela, antes de rumar a Havana, em Cuba. A presença da aeronave em dois países alinhados ao regime de Vladimir Putin reforçou suspeitas sobre eventuais remessas de material de uso bélico.
Aviacon Zitotrans foi incluída em lista de sanções norte-americanas em 2023 sob acusação de transportar “cargas suspeitas” destinadas a forças venezuelanas. Com a restrição, empresas e cidadãos dos EUA ficam proibidos de negociar com a companhia. O sobrevoo do cargueiro em espaço aéreo brasileiro, portanto, coloca o País em posição delicada diante de aliados ocidentais que mantêm embargo robusto contra Moscou desde a invasão da Ucrânia.
Repercussão política e cobrança por esclarecimentos
Parlamentares de oposição destacam que a portaria que autorizou o pouso foi assinada sem divulgação prévia, contrariando o padrão de transparência previsto para missões militares estrangeiras. Segundo o líder da minoria no Senado, a atitude demonstra “benevolência excessiva” do Executivo federal com governos hostis aos interesses estratégicos do Ocidente. Já o Palácio do Planalto sustenta que o pedido russo se enquadra em acordos diplomáticos vigentes e que não houve irregularidade.
Na comunidade internacional, a operação também gerou notas de preocupação. Fontes ligadas à embaixada norte-americana em Brasília afirmam, sob reserva, que acompanham o caso “com atenção, dados os riscos de violação de sanções unilaterais”. A FAB, no entanto, declarou à reportagem que “todas as normas aeronáuticas foram respeitadas” e que a aeronave deixou o território nacional sem incidentes.
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Imagem: Sputnik
Próximos passos e eventuais implicações
A Casa Civil poderá ser instada a prestar esclarecimentos adicionais caso os requerimentos parlamentares avancem. Em paralelo, diplomatas avaliam se a escala em Brasília terá impacto em negociações futuras entre Brasil e países da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Especialistas em defesa recordam que o País mantém histórico de neutralidade, mas alertam para a necessidade de avaliar riscos de reputação ao acomodar empresas sancionadas.
No momento, não há confirmação oficial sobre a natureza da carga. A omissão alimenta especulação de que material estratégico tenha sido desembarcado ou reabastecido antes da etapa venezuelana. Caso documentos complementares venham a público, será possível mensurar o grau de envolvimento logístico do território brasileiro com operações russas na América Latina.
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Em síntese, o cargueiro sancionado pousou em Brasília com aval do governo Lula, permaneceu três dias sem inspeção detalhada conhecida e seguiu para países aliados a Moscou. Caso queira entender como essas movimentações podem repercutir na relação do Brasil com parceiros ocidentais, continue acompanhando nossas publicações e ative as notificações para não perder nenhuma atualização.
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