O ativista conservador Charlie Kirk foi morto a tiros em 11 de outubro de 2025, em Houston, Texas. A execução, classificada pelas autoridades locais como ato premeditado, reacendeu o debate sobre violência política nos Estados Unidos. O ensaísta brasileiro Flávio Gordon atribui o crime a um fenômeno que o filósofo Eric Voegelin chamou de “consciência pneumopatológica” — uma espécie de doença espiritual inscrita no núcleo das ideologias modernas, sobretudo nas correntes de esquerda.
O conceito de pneumopatologia segundo Voegelin
Voegelin diferenciou “pneuma” de “psyche”. Enquanto a “psyche” abrange a mente humana e suas faculdades racionais, o “pneuma” refere-se à dimensão espiritual que conecta o indivíduo ao transcendente. A pneumopatologia, portanto, não seria um distúrbio mental, mas um colapso na relação do homem com a ordem superior da realidade. Para o filósofo, essa ruptura transforma a própria consciência em adversária da verdade, provocando uma revolta permanente contra o “entre” — ou metaxy — que caracteriza a condição humana, situada entre Deus e as bestas.
De acordo com Voegelin, civilizações saudáveis reconhecem a tensão entre mortalidade e imortalidade, tempo e eternidade, ordem e desordem. Já as ideologias pneumopatológicas optam por negar tal tensão. Historicamente, a negação assume formas diversas: o gnosticismo antigo, que via o mundo físico como prisão; o positivismo, que sacraliza o progresso humano; o marxismo, que promete a criação de uma utopia material; e correntes que reduzem o homem à mera animalidade.
Violência política como sintoma da revolta espiritual
Flávio Gordon sustenta que o assassino de Charlie Kirk foi educado em um ambiente onde essas doutrinas se naturalizaram. A “existência-em-revolta” transformaria qualquer obstáculo ideológico num alvo a ser eliminado. O autor usa a expressão “síndrome de Raskolnikov” — alusão ao protagonista de Crime e Castigo, de Fiódor Dostoievski — para descrever indivíduos que se consideram moralmente autorizados a cometer crimes em nome de um ideal superior.
No caso de Houston, o atirador teria enxergado em Kirk não uma pessoa, mas um “princípio”. Assim, ao eliminar o opositor conservador, ele supostamente pavimentaria o caminho para o “novo mundo” imaginado pela militância de esquerda. O raciocínio, segundo Gordon, replica o padrão gnóstico de negar a realidade presente em favor de uma segunda realidade construída pela vontade revolucionária.
Entre hybris e orgulho
Os gregos chamavam a recusa da ordem natural de hybris, arrogância que desafia os limites impostos pelos deuses. Na tradição judaico-cristã, o mesmo fenômeno atende pelo nome de orgulho. Para Voegelin, ambos os termos descrevem a mesma postura: o fechamento progressivo do homem em si mesmo e o consequente desprezo pelos freios morais. Quando esse fechamento se alia a um projeto político, surge o terreno fértil para justificar violência contra o “inimigo” ideológico.
Nesse sentido, o assassinato de Charlie Kirk seria mais do que um ato isolado: representaria o ponto extremo de uma cultura que aplaude a desumanização do adversário. Celebrar a morte de alguém por razões políticas, observa Gordon, indica estágio avançado da pneumopatologia. A doença do espírito abandona a discussão racional e transforma divergência em licença para destruir.
Repercussão e investigação
As autoridades texanas seguem colhendo depoimentos e analisando conteúdos publicados pelo suspeito em redes sociais. Mensagens recuperadas pela polícia apontam motivação política explícita, com referências hostis a comentaristas conservadores e elogios a manifestações radicais de rua. Organizações de defesa dos direitos civis exigem responsabilização exemplar, alegando que a impunidade pode estimular novos ataques.
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Imagem: Antranik Tavitian
Nos Estados Unidos, a morte de Kirk reacendeu cobranças por policiamento de ameaças on-line e maior proteção a personalidades expostas. Lideranças republicanas defendem leis mais duras contra crimes de natureza ideológica, enquanto setores progressistas responsabilizam “retórica polarizadora” por ampliar o risco de violência. Entre os eleitores, cresce a percepção de que o debate público se tornou terreno hostil, onde o dissenso pode custar a vida.
Implicações para o Brasil
Analistas brasileiros veem paralelos entre o caso norte-americano e episódios de agressão a figuras conservadoras no país. A avaliação é que a mesma lógica pneumopatológica, alimentada por redes sociais e militância profissional, cruza fronteiras culturais. Para estudiosos alinhados à direita, o antídoto passa pelo resgate de valores objetivos — vida, dignidade humana, livre expressão — que bloqueiem a escalada do ódio político.
Em síntese, o crime de Houston projeta luz sobre um problema mais profundo que disputas partidárias. Ao diagnosticar a “doença do espírito”, Voegelin oferece chave interpretativa para entender por que determinadas ideologias flertam com a violência. A morte de Charlie Kirk, longe de ser apenas tragédia individual, serve de alerta sobre o preço a pagar quando a sociedade converte adversários em inimigos existenciais.
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