São Paulo — A Avenida Paulista voltou a ser palco, neste domingo (3), de uma grande concentração popular favorável ao ex-presidente Jair Bolsonaro. De acordo com o “Monitor do Debate Político”, projeto do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) em parceria com a USP e a ONG More in Common, 37,6 mil pessoas ocuparam a via paulista no pico do ato, registrado às 15h33. A margem de erro é de 4,5 mil pessoas para mais ou para menos.
Público supera manifestação anterior e reforça mobilização
O número representa um aumento expressivo em relação à mobilização de 29 de junho, que reuniu 12,4 mil participantes na capital paulista. Na comparação, o ato deste fim de semana contou com pouco mais de três vezes o contingente medido há pouco mais de dois meses. Apesar do crescimento, a marca ficou abaixo dos 44,9 mil estimados em 6 de abril, quando o ex-chefe do Executivo havia acabado de se tornar réu no Supremo Tribunal Federal (STF).
O recorde recente continua sendo o de 24 de fevereiro de 2023, quando 185 mil pessoas se reuniram no mesmo endereço para contestar investigações da Polícia Federal. Ainda assim, o resultado deste domingo indica que a base alinhada a Bolsonaro permanece mobilizada mesmo sem a presença física do ex-presidente.
Bolsonaro segue em Brasília, submetido a cautelares definidas pelo STF, incluindo uso de tornozeleira eletrônica e restrições de deslocamento. Este foi o primeiro ato nacional desde a determinação judicial que limita sua circulação em finais de semana e à noite.
Lideranças presentes e ausentes
A convocação partiu do pastor Silas Malafaia, figura próxima a Bolsonaro e articulador de mobilizações em defesa de pautas conservadoras. Na capital paulista, a concentração ocorreu em frente ao Museu de Arte de São Paulo (MASP) a partir das 14h, encerrando-se por volta das 16h.
Entre os políticos que compareceram estavam o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e os deputados federais Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG) e Tomé Abduch (Republicanos-SP). A presença de nomes de projeção nacional reforçou o caráter partidário do evento e sinalizou alinhamento em torno de uma agenda liberal-conservadora.
Ausências chamaram atenção. Cotado como principal herdeiro político de Bolsonaro, o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) não compareceu. Segundo nota oficial, ele passou por um procedimento de radioablação por ultrassonografia neste domingo, com alta prevista ainda na noite. Governadores igualmente bem-cotados na direita, como Ratinho Junior (PR), Romeu Zema (MG) e Ronaldo Caiado (GO), também não estiveram presentes.
Pautas centrais e críticas ao STF
Faixas e cartazes expuseram reivindicações pela aprovação do projeto de anistia a condenados pelos eventos de 8 de janeiro de 2023, além de críticas diretas ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de protestos, assim como a política econômica federal.
Houve, ainda, manifestações de solidariedade ao ex-presidente norte-americano Donald Trump, após a recente decisão da Casa Branca de elevar tarifas de importação para produtos de vários países, incluindo o Brasil. Manifestantes citaram a medida como exemplo de uma política que valorizaria a indústria nacional.
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Cálculo da participação e metodologia
O levantamento de presença utiliza imagens aéreas de alta resolução, segmentação da área ocupada e aplicação de densidade média de 2,3 pessoas por metro quadrado. O grupo ligado à USP monitora eventos na Paulista desde 2015, permitindo comparações históricas consistentes.
A contagem eletrônica apresentada pelos organizadores não foi divulgada, mas a aferição independente serve de parâmetro para veículos de imprensa e autoridades de segurança pública. A Polícia Militar, por sua vez, manteve efetivo preventivo e não registrou ocorrências relevantes durante a manifestação.
Manifestações simultâneas em outras capitais
Convocado para várias cidades, o 3 de setembro teve atos em Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador, entre outras capitais. Relatos preliminares apontam participação inferior à da Avenida Paulista, mas ainda representativa para o campo conservador.
Em Brasília, o gramado da Esplanada dos Ministérios recebeu apoiadores com pautas idênticas às de São Paulo. No Rio, a orla de Copacabana foi o ponto de encontro, com discursos de lideranças estaduais do PL e de parlamentares alinhados ao ex-presidente.
A mobilização nacional, mesmo sem a presença de Bolsonaro, indica disposição da direita em manter as ruas como espaço de pressão institucional. O desempenho paulista, acima do último ato organizado, reforça a avaliação de que o movimento conserva fôlego e capacidade de reaglutinação.
Com a agenda eleitoral de 2024 às portas, prefeitos, deputados e dirigentes partidários observam atentamente a força do eleitorado bolsonarista. Em meio a processos judiciais e restrições impostas ao ex-presidente, a Avenida Paulista mais uma vez serviu de termômetro para medir o tamanho dessa militância.
O ato terminou sem incidentes relevantes, e a via foi liberada para o tráfego por volta das 17h. Para especialistas em mobilização política, a presença significativa de 37,6 mil pessoas, ainda que abaixo de picos anteriores, sinaliza continuidade da participação popular em torno de pautas conservadoras no cenário nacional.
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