Fezes finas e achatadas, conhecidas popularmente como “formato de fita”, estão entre os sinais que podem indicar a presença de um tumor no intestino grosso ou no reto. O tema ganhou repercussão após o relato da cantora Preta Gil, que morreu no domingo, 20, e havia detalhado os sintomas em entrevista ao programa televisivo Mais Você em 2023. À época, a artista descreveu mudanças importantes no hábito intestinal, constipação prolongada e sangramentos que precederam o diagnóstico de câncer colorretal.
No depoimento, Preta Gil explicou que permaneceu cerca de seis meses enfrentando prisão de ventre severa, chegando a ficar até dez dias sem evacuar. Quando conseguia ir ao banheiro, observava sangue, muco e a consistência diferente das fezes, que saíam achatadas. Segundo ela, o tumor localizado no reto exercia pressão sobre o bolo fecal, alterando o formato do material eliminado.
A cantora relatou ainda episódios de picos de pressão arterial e dores de cabeça intensas. Em uma primeira internação, recebeu diagnóstico de cefaleia e foi orientada a procurar avaliação neurológica. No dia seguinte, sofreu um sangramento volumoso ao evacuar, desmaiou e foi levada às pressas ao hospital. Já na tomografia inicial, os médicos identificaram o tumor que motivou o quadro.
O caso evidencia a importância de prestar atenção a mudanças persistentes no funcionamento do intestino. Fezes muito finas, presença de sangue vivo ou escuro, muco, dor abdominal, perda de peso sem causa aparente e sensação de evacuação incompleta são alguns dos sinais que justificam investigação imediata. Em tumores localizados na porção final do intestino, como o reto, a obstrução parcial da luz intestinal costuma comprimir as fezes, originando o aspecto de “fita”.
Para detectar precocemente o câncer colorretal, o exame mais indicado é a colonoscopia. O procedimento utiliza um tubo flexível com microcâmera acoplada que é introduzido pelo reto e percorre todo o cólon até a região chamada ceco, alcançando ainda o íleo terminal. Além de permitir a visualização direta da mucosa intestinal, a colonoscopia possibilita a retirada de pólipos durante o próprio exame. Essas lesões podem se transformar em câncer ao longo dos anos caso não sejam removidas.
A recomendação geral é que a colonoscopia seja realizada a partir dos 45 anos em indivíduos sem fatores de risco adicionais. Pessoas com histórico familiar de pólipos ou câncer colorretal devem antecipar o rastreamento, conforme orientação médica. Apesar da eficácia do método, o acesso ainda é restrito em várias regiões do país, seja por custo elevado ou pela oferta limitada no sistema de saúde.
Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) projetam mais de 45 mil novos casos de câncer colorretal para 2025 no Brasil. A doença ocupa a terceira posição entre os tumores mais incidentes em homens e mulheres, atrás apenas do câncer de pele não melanoma e dos cânceres de mama e de próstata. As mortes também avançam: em 2020 foram pouco mais de 20 mil, número que chegou a quase 26 mil no ano passado.
Especialistas observam crescimento relevante dos diagnósticos em adultos com menos de 50 anos, faixa etária tradicionalmente considerada de menor risco. Entre as possíveis causas discutidas estão mudanças no estilo de vida, aumento do sedentarismo, dietas ricas em ultraprocessados, consumo excessivo de carne vermelha e obesidade. Embora as razões exatas ainda sejam investigadas, o consenso é que a identificação precoce melhora de forma significativa as chances de cura.
Além da colonoscopia, testes de sangue oculto nas fezes ou pesquisa imunológica de hemoglobina humana podem ser utilizados como métodos de triagem. Resultados positivos nesses exames exigem confirmação endoscópica. Modificações no estilo de vida, como aumento da ingestão de fibras, prática regular de atividade física, redução do consumo de álcool e manutenção de peso saudável, também contribuem para reduzir o risco.
O relato público de Preta Gil reforça a necessidade de atenção aos sinais do organismo e de busca por avaliação médica diante de alterações persistentes. Embora a cantora não tenha realizado colonoscopia antes do diagnóstico, ela ressaltou a importância do exame para a detecção de pólipos e prevenção do câncer. Seu caso ilustra como a normalização de sintomas atípicos pode atrasar o reconhecimento da doença.
Profissionais de saúde orientam que qualquer pessoa que perceba mudança súbita ou duradoura na forma, na frequência ou na composição das fezes procure auxílio especializado. Sangramento retal, mesmo em pequena quantidade, não deve ser atribuído apenas a hemorroidas sem investigação adequada. Diante do avanço das estatísticas, a mensagem permanece clara: observar o próprio corpo e realizar exames periódicos são estratégias essenciais para enfrentar o câncer colorretal.