Brasília, 22 abr. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, atacou publicamente os presidentes do PP, senador Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antônio Rueda, depois que as duas siglas questionaram declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre os Estados Unidos e a substituição do dólar em transações comerciais.
Ministra exige posicionamento pró-governo
Em mensagem divulgada nas redes sociais, Gleisi classificou como “espantoso” o fato de Nogueira e Rueda não terem se pronunciado sobre o que chamou de “conspiração contra a soberania brasileira”. Segundo a petista, líderes partidários precisam “dizer de que lado estão: dos interesses do Brasil ou dos interesses de Bolsonaro”.
A ministra mencionou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), a quem atribuiu atuação contrária ao país “a partir dos Estados Unidos”. Gleisi afirmou ainda que “quem provocou as sanções de Trump foi a família Bolsonaro, num ato de traição ao Brasil e ao nosso povo”.
O alvo da crítica de Gleisi surgiu após nota da União Progressista, federação que reúne PP e União Brasil. O texto, divulgado na tarde desta segunda-feira (22), reagiu a fala de Lula feita no fim de semana durante encontro do PT em Brasília. Na ocasião, o presidente acusou Washington de ter apoiado golpes no Brasil e defendeu alternativas ao dólar em operações internacionais.
PP e União Brasil veem risco de isolamento
Na nota conjunta, PP e União Brasil declararam “profunda preocupação” com as palavras de Lula. Para as siglas, a retórica do Planalto “está longe de contribuir” para resolver a crise tarifária provocada pelas taxações impostas pelos Estados Unidos ao aço e ao alumínio brasileiros. O documento sustenta que “evocar conflitos passados” e adotar tom “confrontacional” pode isolar o país e prejudicar negociações comerciais.
A federação argumenta que, diante de barreiras tarifárias, o ideal é “negociar com pragmatismo” em vez de recorrer a declarações que “comprometem a capacidade do Brasil” de alcançar acordos. No entendimento de PP e União Brasil, “cooperação internacional é essencial” para proteger setores produtivos nacionais.
Apesar da reação, ambas as legendas detêm espaços relevantes no primeiro escalão. O União Brasil comanda os ministérios do Turismo, da Integração Nacional e das Comunicações, enquanto o PP ocupa o Ministério do Esporte. A presença dessas siglas no governo contrasta com a série de críticas públicas feitas por seus dirigentes ao petista.
Troca de acusações
A escalada de tensão começou no sábado (20), quando Lula disse que os Estados Unidos “nunca pediram desculpas” por suposto envolvimento em “golpes de Estado” no Brasil e em outras nações. No mesmo discurso, defendeu a criação de alternativas ao dólar em troca internacional, tema que já havia levantado desconforto entre partidos do Centrão.
Na resposta de segunda-feira, Gleisi rebateu: “Não foi Lula quem buscou confronto, nem quem impôs tarifas ou interferiu na Justiça de outro país”. Segundo a ministra, a adoção de sobretaxas pelo então presidente Donald Trump ocorreu “porque a família Bolsonaro instigou as sanções”.


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O PP, liderado por Ciro Nogueira, atuou como base do governo Jair Bolsonaro até 2022 e, na legislatura atual, mantém bancada expressiva nas duas Casas. O União Brasil nasceu da fusão do DEM com o PSL (partido pelo qual Bolsonaro se elegeu em 2018) e, embora integre a Esplanada, vota com frequência contra projetos do Planalto.
Cenário na Câmara e no Senado
O embate verbal adiciona pressão sobre as votações previstas nas próximas semanas, como a regulamentação da reforma tributária e o novo arcabouço fiscal. O governo depende de apoio de PP e União Brasil para atingir maioria simples tanto na Câmara quanto no Senado. Líderes do Centrão afirmam reservadamente que declarações de Lula contra Washington dificultam convencer suas bases a respaldar matérias econômicas.
Aliados de Ciro Nogueira afirmam que o senador defende “responsabilidade institucional” e “previsibilidade” na política externa. Já interlocutores de Rueda alegam que o União Brasil cumpre papel de “contraponto” a posições consideradas ideológicas do Palácio do Planalto.
Próximos passos
Pessoas próximas a Gleisi dizem que a ministra pretende manter a cobrança pública até que os partidos se alinhem ao discurso oficial ou cedam espaço na máquina federal. Integrantes do PP e do União Brasil, por outro lado, sinalizam que podem reduzir apoio em votações caso o Planalto avance em críticas ao setor privado ou às relações com os EUA.
No Congresso, deputados governistas buscam articular reuniões de pacificação. O objetivo é impedir que o atrito afete liberação de emendas, relatorias de projetos e indicações para estatais. Até o momento, Ciro Nogueira e Antônio Rueda não responderam diretamente às novas declarações de Gleisi.
O episódio expõe novamente a fragilidade da coalizão montada por Lula desde janeiro de 2023. Embora apoie a distribuição de cargos a partidos de centro, o presidente enfrenta resistências quando adota discurso crítico a governos estrangeiros ou pauta temas considerados sensíveis pelo agronegócio, indústria e mercado financeiro.
Enquanto o Planalto reforça a retórica de defesa da soberania, parte significativa da base aliada prioriza estabilidade econômica e relações cordiais com os Estados Unidos. A compatibilização dessas agendas deverá ser central para a governabilidade nos próximos meses.

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