O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abre a 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (23), em Nova York, com um discurso centrado na defesa de um Estado palestino e na tentativa de reverter desgastes recentes na cena internacional. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, Lula pretende reiterar o reconhecimento brasileiro à Palestina, formalizado em 2010, e explorar o momento em que países como Reino Unido, Austrália, Portugal e Canadá passaram a adotar posição semelhante.
Tarifas de Trump e sanções Magnitsky moldam o tom do discurso
A estratégia brasileira ocorre sob o impacto das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos às exportações nacionais, anunciadas após Lula reforçar, na cúpula dos Brics de julho, a defesa de uma nova ordem econômica sem predominância do dólar. Além disso, a aplicação da Lei Magnitsky Global ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, foi ampliada na segunda-feira (22) à esposa do magistrado, Viviane Barci de Moraes, e ao Instituto Lex. A medida bloqueia acesso ao sistema financeiro ocidental.
Analistas ouvidos pelo Itamaraty avaliam que Lula adotará um tom de vitimização para criticar as sanções e buscar apoio de nações do Sul Global. Contudo, ainda não está claro se o presidente fará ataque direto ao líder norte-americano Donald Trump, que falará logo depois dele, conforme a tradição do evento.
Diplomatas brasileiros enfrentam restrições de visto
A comitiva do Planalto chega a Nova York desfalcada. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, desistiu da viagem após ter a locomoção limitada a cinco quarteirões do hotel onde ficaria hospedado. Outros integrantes do governo também tiveram vistos revogados por envolvimento no programa Mais Médicos, classificado por Washington como uso de mão de obra cubana em condições análogas à escravidão.
Aliados do ministro Moraes, como o advogado-geral da União, Jorge Messias, tiveram vistos cancelados. De acordo com especialistas, novas sanções podem alcançar outros ministros do STF e servidores acusados de participar da “narrativa de perseguição política” apontada por autoridades norte-americanas.
Aproximação com regimes autoritários fragiliza neutralidade histórica
Durante o terceiro mandato, Lula intensificou a aproximação com Irã e Rússia, o que, segundo especialistas, corroeu a tradicional neutralidade que garantia ao Brasil capacidade de dialogar com todos os lados de conflitos internacionais. Para Israel, a defesa enfática da Palestina retira do país a posição de mediador confiável.
Cezar Roedel, doutor em Filosofia e especialista em conflitos, observa que a fala de Lula tende a ser “meramente ideológica”, com críticas a Israel e menções a uma “nova ordem mundial”. O professor de Economia Internacional do Ibmec Brasília, João Gabriel Araujo, acrescenta que a postura conspira contra o papel de árbitro e pode trazer sanções que afetem interesses econômicos brasileiros.
COP 30 sob risco de esvaziamento compromete agenda ambiental
Paralelamente, o Planalto pretende usar o palco da ONU para promover a Conferência do Clima (COP 30), marcada para 2026 em Belém. No entanto, denúncias de superfaturamento em hospedagens e falhas logísticas ameaçam reduzir o número de delegações e minar o protagonismo do Brasil na pauta ambiental. A administração federal apresentará o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, mas recordes de queimadas nos dois primeiros anos do mandato desafiam o discurso ecológico do presidente.


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Imagem: Ricardo Stuckert
Disputa de narrativas mira público interno
A avaliação de consultores políticos é que o pronunciamento buscará, sobretudo, reforçar a base doméstica. Pesquisas recentes indicam melhora nas intenções de voto de Lula quando ele adota retórica contra os Estados Unidos e se apresenta como defensor da soberania nacional. Alexandre Ostrowiecki, administrador com formação em política externa, aponta que o terreno do patriotismo, historicamente associado à direita, passou a ser explorado pelo Planalto para atrair eleitores fora do círculo tradicional petista.
Ao final da sessão de abertura, a reação de Donald Trump servirá de termômetro sobre a disposição da Casa Branca em ampliar barreiras comerciais ou financeiras contra o Brasil. Se decidir poupar o líder republicano de críticas diretas, Lula tenta evitar novos atritos, mas corre o risco de frustrar aliados que esperam posicionamento mais agressivo.
Em resumo, o discurso de Lula deve combinar queixa contra sanções americanas, defesa da criação do Estado palestino e apelo por uma reformulação da ordem econômica internacional. A eficácia dessa abordagem para reconstruir a imagem externa do Brasil permanece incerta diante do enrijecimento das relações com Washington e da desconfiança de parceiros estratégicos.
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Este texto reuniu os principais pontos que devem marcar a participação de Lula na Assembleia Geral da ONU. Continue acompanhando nossa cobertura e compartilhe a matéria para ampliar o debate sobre os impactos dessa agenda na economia e na diplomacia brasileiras.
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