Aos 13 anos, Marília Mendonça já recebia salário de compositora profissional e definia, nos bastidores, um novo rumo para a música sertaneja. O conjunto de melodias densas e letras diretas que desenvolveu nessa fase ficou conhecido como estilo “mariliônico”, expressão que ainda hoje serve para identificar canções marcadas por tensão, mistério e emoção à flor da pele.
Primeiras composições e contratação precoce
A trajetória começou aos 12 anos, quando escreveu “Minha Herança” depois do primeiro término de namoro. A música foi devidamente registrada, abrindo caminho para um contrato profissional no ano seguinte. A produtora Workshow ofereceu a Marília um salário mensal de R$ 3 mil, valor que utilizava para ajudar nas contas de casa em Goiânia (GO).
Dentro da empresa, a adolescente trancava-se no quarto, caderno e violão à mão, e compunha durante a madrugada. Às seis da manhã, antes de ir para a escola, costumava apresentar as novas criações à família. O ritual era acompanhado pelo irmão, João Gustavo, que recorda a intensidade com que a jovem colocava sentimentos no papel.
Empresário e compositores da cena sertaneja relatam que o mercado “brigava” pelas obras de Marília. Nomes consagrados como João Neto & Frederico, Henrique & Juliano e Maiara & Maraísa passaram a gravar as canções da novata, consolidando sua reputação muito antes de a voz dela ser conhecida pelo grande público.
Elementos que definem o estilo ‘mariliônico’
Especialistas destacam a combinação de acordes maiores e menores, além do uso de empréstimo modal — recurso harmônico incomum no sertanejo tradicional — como marcas da compositora. Esse arranjo reforçava o impacto de letras que expunham conflitos amorosos sem rodeios, frequentemente do ponto de vista feminino.
A habilidade de síntese também chamava atenção. Em “Cuida Bem Dela”, gravada por Henrique & Juliano em 2014, Marília conta a história de uma amante que pede desculpas à esposa do homem que amou, tudo em versos simples e diretos. O enredo forte em pouca metragem tornou-se referência de narrativa objetiva no gênero.
O termo “mariliônico” foi cunhado por colegas para classificar músicas que carregam essa assinatura: densidade emocional, linhas melódicas inesperadas e ausência de julgamento moral explícito. Depois da ascensão da artista, produtores brincam que o mercado ficou “emariliado”, tamanha a procura por composições nesse formato.


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Imagem: g1.globo.com
Do bastidor ao palco e impacto duradouro
Em 2015, aos 19 anos, Marília recebeu autorização para gravar o primeiro DVD. Na ocasião, declarou que queria “gravar brega” e buscou parceiros do Nordeste para reforçar a identidade popular que admirava. Desse processo surgiram faixas como “Hoje Somos Só Metade” e “4 e 15”.
O registro audiovisual aconteceu no estúdio de Eduardo Pepato, em Mairinque (SP), cenário do clipe de “Infiel”. A música, vista inicialmente como aposta arriscada, tornou-se um marco ao colocar uma mulher traída confrontando tanto o parceiro quanto a amante. Segundo músicos envolvidos, a canção exemplifica a fusão de complexidade harmônica e discurso direto que caracterizava a compositora.
O reconhecimento extrapolou o universo sertanejo. Em 2018, Gal Costa gravou “Cuidando de Longe”, obra de Marília até então considerada complexa demais para o rádio, e descreveu a jovem como “rock ’n’ roll da sofrência”.
Embora Marília Mendonça tenha alcançado projeção nacional como cantora em curto espaço de tempo, seu legado como compositora antecede a fama e permanece influente. O adjetivo “mariliônico” continua em uso para designar faixas que unem drama, honestidade e arranjos surpreendentes, reforçando o papel da artista na renovação da música popular brasileira.

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