O Instituto Nacional de Tecnologia da Informação e Comunicações (NICT), do Japão, estabeleceu um novo recorde de velocidade de transmissão de dados ao atingir 1,02 petabit por segundo, o equivalente a aproximadamente 127.500 GB por segundo, em um enlace de 1.802 quilômetros. A marca foi obtida em testes de laboratório e representa um avanço significativo em relação aos limites previamente alcançados em redes ópticas de longa distância.
Para fins de comparação, a velocidade média de banda larga fixa nos Estados Unidos era de 289 Mb/s em maio de 2025, de acordo com a plataforma Speedtest. Isso coloca o experimento japonês em um patamar cerca de 3,5 milhões de vezes mais rápido que o acesso doméstico típico naquele país. Na prática, essa taxa permitiria baixar todo o catálogo da Netflix em menos de um segundo, ressaltando o salto de capacidade proporcionado pela tecnologia.
O resultado foi possível graças a um novo cabo de fibra óptica que incorpora 19 núcleos — ou canais independentes para propagação de luz — dentro de um diâmetro externo de apenas 0,125 milímetro, o mesmo de cabos monomodo convencionais. Ao multiplicar por 19 a quantidade de caminhos disponíveis para os sinais, a equipe conseguiu ampliar proporcionalmente a largura de banda, mantendo o formato físico compatível com a infraestrutura já instalada em redes existentes.
Além da estrutura interna diferenciada, o experimento exigiu a aplicação de técnicas de amplificação óptica ao longo do trajeto simulado de 1.802 quilômetros, distância comparável a um enlace entre Nova York e Chicago. O sinal precisou ser reforçado 21 vezes para compensar a atenuação natural ocorrida no percurso, sem introduzir perdas significativas de qualidade. A uniformidade da condução de luz em todos os núcleos contribuiu para minimizar erros e garantir a integridade dos dados na chegada ao destino.
O recorde atual mais do que dobra o resultado obtido pelo próprio NICT no ano anterior, quando foram registrados 50.250 GB por segundo. Em 2023, a equipe já havia demonstrado taxas semelhantes às de agora, porém apenas em um terço da distância agora coberta. O avanço recente se deve, sobretudo, à melhoria no desempenho dos amplificadores ópticos e à redução de dispersão e ruído nos múltiplos canais do novo cabo.
A demanda global por tráfego de dados continua em rápida expansão: segundo a chamada Lei de Nielsen, o volume transacionado cresce cerca de 50 % ao ano. Frente a esse cenário, soluções que aumentem a capacidade sem exigir mudanças drásticas na infraestrutura física são vistas como estratégicas. Por ter o mesmo diâmetro dos cabos atuais, a fibra de 19 núcleos pode ser instalada em dutos e armários já existentes, facilitando atualizações graduais de redes metropolitanas, dorsais nacionais e cabos submarinos.
Essa compatibilidade é particularmente relevante para países onde a expansão de redes de fibra encontra entraves regulatórios, financeiros ou logísticos. A possibilidade de multiplicar a capacidade usando a mesma rota e o mesmo espaço físico reduz custos de implantação e acelera o atendimento à demanda por serviços como streaming em 8K, computação em nuvem, realidade estendida e comunicação entre centros de dados.
O novo resultado ainda aguarda verificação independente, etapa padrão antes de se estabelecer oficialmente qualquer recorde científico ou de engenharia. Apesar disso, o marco reforça o potencial das fibras ópticas multimeio como caminho promissor para sustentar a próxima geração de serviços digitais. À medida que técnicas de multiplexação espacial amadurecem, a perspectiva é de que velocidades na casa dos petabits se tornem realidade fora dos laboratórios, moldando o futuro da internet de alta capacidade.