Informações divulgadas nos últimos dias sugeriram que o governo dos Estados Unidos poderia suspender o sinal civil do Sistema de Posicionamento Global (GPS) para o Brasil em meio a atritos diplomáticos. A hipótese gerou preocupação sobre impactos em atividades econômicas que dependem de dados de latitude e longitude. Especialistas, no entanto, indicam que a perda desse serviço teria alcance limitado, pois o país já conta com acesso a constelações de navegação de outras potências.
O receio de um eventual bloqueio remete ao período anterior a maio de 2000, quando os satélites americanos mantinham um erro intencional de até 100 metros para usuários civis. Em 1999, durante conflito entre Índia e Paquistão, Nova Délhi solicitou a remoção dessa restrição e recebeu resposta negativa de Washington. O episódio motivou diversas nações a criar ou acelerar programas próprios de navegação por satélite.
Desde então, cinco sistemas globais ou regionais passaram a operar além do GPS: o russo GLONASS (1982), o chinês BeiDou (2000), o europeu Galileo (2005), o japonês QZSS (2010) e o indiano NavIC (2013). Dispositivos vendidos atualmente no Brasil costumam ser compatíveis com esses sinais, combinando informações de várias constelações para obter maior precisão e redundância.
Na aviação civil, a dependência de satélites também é menor do que se supõe. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) exige que pilotos dominem técnicas de radionavegação baseadas em estações em solo que utilizam frequências VHF, conhecidas como VOR. Esses equipamentos, instalados em território brasileiro, permitem orientação sem recorrer a sistemas espaciais.
Setores cuja instrumentação é mais antiga, como agronegócio, telecomunicações, agrimensura e exploração de petróleo e gás, podem ainda empregar receptores limitados ao GPS dos EUA. Nesses casos, a substituição por modelos compatíveis com múltiplas constelações resolve a vulnerabilidade. A troca envolve custos, mas não depende de autorização externa.
Vulnerabilidade principal está em softwares norte-americanos
Enquanto a navegação por satélite dispõe de alternativas consolidadas, a dependência brasileira de softwares e serviços em nuvem desenvolvidos nos Estados Unidos é considerada bem mais crítica. Empresas de tecnologia do país utilizam amplamente produtos de fabricantes como Microsoft, Amazon, Google, Meta, Oracle, IBM, Cisco e Dell para infraestrutura de servidores, bancos de dados, colaboração e comunicação.
Caso sanções semelhantes às aplicadas contra Cuba, Irã, Síria, Sudão, Coreia do Norte e Venezuela fossem estendidas ao Brasil, licenciamentos poderiam ser revogados e acessos a plataformas na nuvem suspensos. A interrupção atingiria desde sistemas corporativos de gestão até ferramentas de produtividade usadas por órgãos públicos, escolas e profissionais autônomos.
Em tese, todas essas soluções têm equivalentes baseados em código aberto ou produzidos por fornecedores de outras regiões. Contudo, a substituição demandaria planejamento, equipes especializadas, migração de dados e treinamento de usuários, processos que elevam custos e podem levar anos. A cultura empresarial local, que costuma priorizar marcas de maior popularidade, tende a retardar a adoção de alternativas.
A União Europeia vem financiando iniciativas para reduzir a exposição a fornecedores externos, enquanto a China investe há décadas em projetos de independência em arquitetura de processadores e sistemas operacionais. Analistas destacam que o Brasil possui infraestrutura de data centers, redes de telecomunicações e mão de obra qualificada para desenvolver plataformas próprias ou integrar tecnologias de código aberto, mas até o momento faltam políticas de longo prazo nessa direção.
O debate reacendido pelo boato sobre o GPS revela, segundo especialistas, um foco deslocado na discussão sobre soberania tecnológica. Embora a perda temporária de um sistema de navegação possa ser contornada com relativa rapidez, a interrupção de softwares essenciais ameaça cadeias de produção completas, serviços financeiros e até a administração pública.
Para mitigar riscos, recomenda-se mapear dependências de licenciamento, adotar gradualmente soluções independentes e criar contingências que evitem paralisia em caso de sanções. O episódio reforça a necessidade de planejamento estratégico para que setores críticos da economia não fiquem sujeitos a decisões unilaterais de governos estrangeiros ou de grandes corporações de tecnologia.


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