O ambiente de negócios no Brasil vive a pior pressão combinada desde a recessão de 2015-2016. Taxa Selic em 15% ao ano, tarifas impostas pelos Estados Unidos e a perspectiva de novas punições caso o ex-presidente Jair Bolsonaro seja condenado pelo Supremo Tribunal Federal formam um conjunto de fatores que levou 4.965 companhias a solicitar recuperação judicial no primeiro semestre de 2025. O número, apurado pela RGF Associados, representa alta de 17,6% em relação ao mesmo período de 2024 e estabelece novo recorde na série histórica.
Juros elevados criam círculo vicioso de falta de crédito
Com o custo do dinheiro no patamar mais alto desde 2017, a maior parte das empresas tem encontrado dificuldade para obter capital de giro. Dívidas antigas atreladas a juros variáveis encareceram, investimentos foram postergados e o consumo das famílias arrefeceu. O resultado é um ciclo de restrição financeira que obriga empresários a recorrer ao Judiciário em busca de proteção contra execuções e penhoras.
O mecanismo da recuperação judicial garante até 180 dias de blindagem enquanto a companhia apresenta um plano de pagamento dos débitos. Nem sempre, porém, a saída funciona: quase 30% das organizações que concluem o processo terminam em falência, maior índice já captado pela consultoria.
Tarifa de 50% agrava perda de competitividade no mercado norte-americano
Desde 6 de julho, produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos pagam sobretaxa de 50%, exceção feita ao suco de laranja. O agronegócio, responsável por 49% das exportações totais do país, figura entre os mais prejudicados. Cancelamentos de pedidos e renegociações de preço vêm obrigando produtores a buscar destinos alternativos, normalmente menos rentáveis.
Segundo levantamento da Serasa Experian, o setor rural abriu 389 novos processos de recuperação judicial apenas no primeiro trimestre de 2025, avanço de 21,5% sobre igual período de 2024. Entre pessoas físicas produtoras, 195 recorreram ao instrumento, concentradas em arrendatários expostos a custos fixos elevados de terra e variação de safra.
Possíveis sanções adicionais: Magnitsky e exclusão do Swift
A Casa Branca monitora o julgamento do ex-presidente Bolsonaro, marcado para 2 de setembro. Fontes próximas ao governo norte-americano sinalizam que eventual condenação pode acionar novas punições. Entre elas, a extensão dos efeitos da Lei Magnitsky — que congela ativos e proíbe transações com bancos dos EUA — e a retirada do Brasil do Swift, rede internacional de pagamentos.
Especialistas em comércio exterior consideram que tais medidas poderiam travar linhas de crédito em dólar, encarecer importações de insumos e limitar exportações que dependem de liquidação em moeda norte-americana. O ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman define o impacto potencial como “bomba atômica” para a economia doméstica.
Centro-Oeste lidera pedidos; processamento agrícola é o mais afetado
A região Centro-Oeste registra 2,75 empresas em recuperação judicial para cada mil ativas, 40% acima da média nacional. Mato Grosso apresenta 21,5 pedidos por mil produtores de soja e 20,9 entre canavieiros. Na indústria de transformação, a fabricação de açúcar exibe 181,4 empresas sob proteção judicial a cada mil, seguida pelos derivados de arroz (117,7) e pela produção de etanol (74,8).


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Imagem: Daniel Torok
Entre abril e junho, o agronegócio totalizou 11,5 companhias em processo de reestruturação a cada mil existentes, quase seis vezes o índice nacional. A combinação de juros altos, preço de insumo mais caro e incerteza no mercado externo acelera o quadro de deterioração.
Indústria, serviços e comércio também sofrem
A indústria nacional somou 1.121 recuperações judiciais no segundo trimestre, estabilidade em relação aos três meses anteriores. Serviços chegaram a 1.117 casos, avanço de 2%, puxados por segmentos dependentes de consumo discricionário. Já o comércio registrou 1.003 pedidos, alta de 0,7%, reflexo do endividamento das famílias.
Gestão de caixa e negociação com credores ganham prioridade
Consultores em reestruturação reiteram que o momento exige rigor no controle de caixa, revisão rápida de custos e negociação pró-ativa com bancos. Rodrigo Gallegos, sócio da RGF Associados, observa que empresas que ajustam despesas e tratam dívidas antes do colapso demonstram maior chance de sobrevivência.
Volnei Eyng, da gestora Multiplike, avalia que o principal problema é a alavancagem contratada em momentos de crédito fácil: “Capital mal estruturado, com taxa alta e prazo curto, destrói a empresa quando o ciclo econômico vira”.
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Em síntese, a conjunção de juros em dois dígitos, tarifa de 50% nos EUA e risco de novas sanções coloca o setor produtivo diante de desafios inéditos. Empresas que reforçarem governança financeira e renegociarem obrigações com agilidade podem atravessar a tempestade. Fique atento às próximas movimentações e compartilhe este conteúdo com sua rede para ampliar o debate.

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