NOVA YORK — A 80ª Assembleia Geral da ONU reúne nesta terça-feira (22) os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump pela primeira vez desde o aumento das tarifas americanas sobre produtos brasileiros. Sem agenda bilateral prevista, os dois chefes de Estado devem ocupar a mesma tribuna em sequência, ampliando a expectativa de novas trocas de farpas diante da plateia internacional.
Pressão comercial e impasse diplomático
Em julho, Washington elevou em 50% as tarifas sobre bens brasileiros, medida amparada na Lei Magnitsky e acompanhada da suspensão de vistos para servidores ligados ao ministro Alexandre de Moraes. A Casa Branca justificou a decisão citando “ameaças à democracia” após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Brasília respondeu classificando a ação como retaliação política e recusou, até hoje, qualquer conversa telefônica solicitada por Trump.
Analistas ouvidos por redes de TV americanas avaliam que o discurso de Lula deverá criticar o aumento tarifário, enquanto a fala de Trump, programada logo em seguida, servirá de termômetro para países em desenvolvimento que contestam a política protecionista dos Estados Unidos.
Oito episódios de confronto público
1. Convite ignorado — Em agosto, Trump declarou que o colega brasileiro poderia telefonar “quando quisesse” para discutir tarifas. Lula descartou a chamada, alegando falta de “preparação diplomática”.
2. “Ele não quer conversar” — Quatro dias antes da Assembleia, Lula afirmou à BBC que nunca ligou para Trump porque o republicano “demonstrou que não queria diálogo”. Reforçou, ainda, que o povo americano “pagará” pelo tarifaço de julho.
3. Artigo no New York Times — Em 14 de setembro, o presidente do Brasil publicou opinion piece acusando a Casa Branca de usar tarifas e sanções para proteger Jair Bolsonaro. No texto, chamou a medida de “politicamente motivada” e exaltou a atuação do STF contra o ex-mandatário.
4. Acusação de genocídio em Gaza — Em fevereiro, depois de Trump propor administração da Faixa de Gaza pelos EUA, Lula declarou que Washington “incentivou um genocídio” no território palestino, elevando o tom contra a política externa americana.
5. Alinhamento ao Brics — Na cúpula do bloco, no Rio de Janeiro, Lula defendeu menor dependência do dólar. Horas depois, Trump avisou em rede social que qualquer país que “abraçar políticas antiamericanas do Brics” enfrentaria novas tarifas.
6. Poder econômico e militar na mesa — Após a condenação de Bolsonaro, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, citou a possibilidade de usar “poder econômico e militar” para defender liberdade de expressão fora dos EUA, resposta indireta a críticas sobre censura no Brasil.
7. “Mau parceiro” — Em coletiva no Salão Oval, Trump classificou o Brasil como “parceiro comercial horrível”, acusando tarifas brasileiras maiores que as americanas. Lula reagiu declarando que o republicano “lucra” com o comércio bilateral, mas o Brasil “não anda de joelhos”.
8. A jabuticaba da discórdia — Pouco após o anúncio da sobretaxa, Lula postou vídeo comendo jabuticaba e prometeu levar a fruta a Trump, numa tentativa de mostrar tranquilidade diante da pressão tarifária.


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Imagem: Raphaela Ribas
Cenário na ONU
A delegação brasileira chega a Nova York sob críticas internas sobre a condução da política externa, vista por opositores como alinhada a regimes adversários aos EUA. Já Trump desembarca fortalecido por apoio republicano no Congresso e pelo compromisso de endurecer com parceiros que, segundo ele, “se beneficiam injustamente do mercado americano”.
Embora o protocolo da ONU priorize a cordialidade, aliados dos dois governos admitem que qualquer menção negativa durante os discursos poderá agravar o impasse comercial. O Itamaraty, porém, afirma que “não há ruptura” e mantém canais abertos com o Departamento de Estado.
No curto prazo, empresas brasileiras temem impacto direto sobre exportações de aço, alumínio e produtos agrícolas. Organizações do agronegócio calculam que a tarifa de 50% pode reduzir em até US$ 4 bilhões o superávit do setor com os EUA ainda neste ano.
Por outro lado, o governo Trump sinaliza que futuras negociações dependerão de recuos do Planalto em fóruns como Brics e de uma postura “cooperativa” frente à segurança digital, tema sensível para gigantes de tecnologia americanas alvo de decisões judiciais no Brasil.
Próximos passos
Sem encontro formal previsto, eventual diálogo entre Lula e Trump poderá ocorrer apenas em recepções paralelas ou corredores da sede da ONU. Caso o contato não se concretize, diplomatas brasileiros deverão insistir em tratativas técnicas a partir de novembro, quando termina a vigência temporária de parte das tarifas.
Até lá, o Planalto pretende reforçar o discurso de defesa do multilateralismo, enquanto Washington deve manter a narrativa focada em “reciprocidade” comercial e proteção da liberdade de expressão.
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Em resumo, Lula e Trump chegam à ONU cercados por uma sequência de provocações públicas que já impactam comércio, diplomacia e segurança internacional. Fique ligado no Geral de Notícias e receba atualizações em tempo real sobre os próximos movimentos dos dois presidentes.
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