Uma nova fase de tensão marca as relações entre Estados Unidos e Brasil após a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e a exigência do ex-presidente Donald Trump para que o Supremo Tribunal Federal (STF) suspenda o julgamento de Jair Bolsonaro. A medida norte-americana, descrita pelo Financial Times como a pior crise bilateral em dois séculos, associa questões comerciais a um processo judicial que pode definir o futuro político do ex-chefe do Executivo brasileiro.
Tarifas e sanções aumentam pressão econômica e institucional
Em Washington, a decisão de elevar as tarifas veio acompanhada de exceções pontuais, mas afeta setores exportadores sensíveis. Apesar de dados oficiais indicarem superávit de US$ 7,4 bilhões para os EUA no comércio com o Brasil em 2024, o governo norte-americano alega “práticas injustas” e cobra revisão de regulamentações brasileiras sobre big techs. Paralelamente, foram suspensos vistos de oito ministros do STF e impostas sanções financeiras ao ministro Alexandre de Moraes, amparadas em legislação destinada a punir violações graves de direitos humanos.
A iniciativa inédita soma-se ao crescimento da China como principal destino das exportações brasileiras, fator que o Planalto tem usado para justificar aproximação com o bloco BRICS. Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve contato direto com Narendra Modi, Vladimir Putin e Xi Jinping, em busca de apoio econômico e diplomático diante da ofensiva norte-americana.
Julgamento de Bolsonaro entra na reta final
No centro do litígio está o processo que tramita no STF contra Jair Bolsonaro. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal apontam “abundantes evidências” de que o ex-presidente teria discutido cenários para impedir a posse de Lula em 2023, elaborando inclusive minuta de decreto de intervenção militar. Depoimentos de ex-comandantes das Forças Armadas e documentos recolhidos em endereços ligados ao então ministro da Justiça, Anderson Torres, reforçam a peça acusatória.
Os magistrados da Corte, muitos com experiência direta do regime militar encerrado em 1985, consideram crucial concluir o caso para demonstrar capacidade institucional de punir ilícitos cometidos no mais alto escalão. Segundo fontes ouvidas pelo jornal britânico, a convicção de que o julgamento precisa avançar também serviria como resposta a pressões externas.
Exigência de Trump cria impasse jurídico e político
Donald Trump condicionou a revisão tarifária à suspensão do processo contra Bolsonaro, solicitação considerada “impossível” dentro da estrutura constitucional brasileira. O presidente da República não detém prerrogativa para interferir em julgamentos do STF, e o Palácio do Planalto descarta qualquer movimentação nesse sentido. O próprio Lula tem explorado o episódio para reforçar discurso de defesa da soberania nacional, enquanto parte do agronegócio critica os prejuízos decorrentes das novas barreiras comerciais.
Nos Estados Unidos, o deputado Eduardo Bolsonaro realizou articulações em favor do pai, pedindo a aliados de Trump medidas contra integrantes da Corte brasileira. A ofensiva incluiu lobby por sanções individuais, estratégia que colide com interesses de exportadores brasileiros dependentes do mercado norte-americano.
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Possíveis desdobramentos
Com o julgamento de Bolsonaro próximo do desfecho, analistas ouvidos pelo Financial Times projetam condenação e intensificação das medidas de Washington. A permanência do embate, sem canal de negociação direta, tende a prolongar incertezas para investidores e setores produtivos dos dois países.
Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, advertiu que o enfrentamento de Lula contra o governo norte-americano “não funcionará bem para o povo brasileiro”. Por outro lado, integrantes do Executivo brasileiro avaliam que a reação dos EUA fortalece a posição do Planalto junto a eleitores que rejeitam ingerência externa em assuntos internos.
Contexto regional e internacional
A escalada coincide com a intensificação de fluxos comerciais entre Brasil e Ásia, cenário que potencializa a capacidade de Brasília diversificar mercados em caso de restrições prolongadas nos EUA. Entretanto, a dependência de insumos norte-americanos em segmentos como tecnologia e defesa mantém alto o custo de um divórcio comercial.
Do ponto de vista institucional, a suspensão de vistos para ministros do STF representa precedente raro na diplomacia norte-americana com parceiros estratégicos. A aplicação de sanções baseadas em legislação de direitos humanos, antes restrita a regimes autoritários, sinaliza endurecimento de Washington quando interesses políticos domésticos entram em jogo.
Enquanto isso, a conclusão do julgamento de Jair Bolsonaro será determinante para os próximos passos. Caso se confirme uma condenação, cresce a possibilidade de novas tarifas, restrições ou medidas de retaliação, mantendo a relação EUA-Brasil em compasso de tensão prolongada.
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