O senador Ciro Nogueira (PP-PI) foi pessoalmente à residência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Brasília na tarde desta terça-feira (5). O encontro, autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), marcou a primeira visita política ao líder conservador desde o início da prisão domiciliar.
Visita autorizada pelo STF
Bolsonaro cumpre as restrições impostas por Moraes, que incluem proibição de uso de redes sociais, de aparelhos celulares e de qualquer contato que não tenha sido previamente liberado. Para entrar na casa, Ciro Nogueira apresentou o despacho judicial que permitiu a presença de aliados em horários determinados e sem registro de imagens internas.
Ex-chefe da Casa Civil durante o governo Bolsonaro e atual presidente nacional do PP, Nogueira relatou ter sido recebido pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Segundo o senador, o ex-mandatário está “triste, mas inabalável”, mantendo firme a confiança em Deus e no futuro do país. “Ele acredita no Brasil e sabe que vamos superar este momento difícil”, escreveu Nogueira na rede social X logo após deixar o local.
Em vídeo divulgado na mesma plataforma, o parlamentar reforçou a percepção de resiliência do ex-presidente: “Não vou dizer que ele não estava triste, mas é uma pessoa que acredita muito no nosso país, em Deus. Espero que possamos superar o mais rapidamente possível essa situação”.
A defesa de Bolsonaro prepara recurso para tentar reverter a prisão domiciliar. A estratégia jurídica será protocolada ainda nesta semana e deve focar na inexistência de requisitos para a medida restritiva, especialmente a proibição de comunicação pela internet, vista pelos advogados como censura prévia.
Repercussão política no Congresso
O cerco judicial ao ex-chefe do Executivo mobilizou a base conservadora no Parlamento. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, protocolaram pedidos formais para visitar o ex-presidente. Outros correligionários aguardam aval do STF ainda nesta semana.
Enquanto os pedidos se acumulam, parlamentares de oposição ao governo Lula ocuparam as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado em protesto. A ação forçou os presidentes das Casas, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), a cancelarem as sessões plenárias de terça-feira e convocarem reuniões emergenciais com os líderes partidários.
O movimento exige a aprovação de um chamado “pacote da paz”, que inclui anistia ampla, geral e irrestrita para investigados dos atos de 8 de janeiro, o impeachment de Alexandre de Moraes e o fim do foro privilegiado para parlamentares. Os manifestantes afirmam que a obstrução continuará até que o conjunto de projetos seja deliberado.
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Em paralelo, cresce no Senado o apoio formal ao pedido de impeachment de Moraes. Até esta terça-feira, 38 senadores já haviam assinado o requerimento, faltando três assinaturas para atingir a maioria absoluta da Casa. Líderes conservadores veem na prisão de Bolsonaro o estopim para ampliar a pressão institucional contra o ministro do STF, acusado pelo grupo de agir com parcialidade e extrapolar competências.
No campo governista, porém, o presidente Lula tem reiterado que manterá a atual linha ideológica. Em declaração recente, afirmou que “vai ficar cada vez mais esquerdista e socialista”, o que indica pouca disposição para acomodar as demandas apresentadas pela oposição.
A escalada do confronto político-jurídico gerou alertas entre analistas de que o impasse pode paralisar votações de interesse do Executivo, travar a pauta econômica e agravar a polarização. Aliados do Palácio do Planalto ainda avaliam alternativas para recompor o funcionamento do Congresso sem abrir mão do respaldo público a Moraes.
Para Ciro Nogueira, no entanto, a prioridade segue sendo a situação pessoal de Bolsonaro. O senador reiterou que “a justiça deve prevalecer” e que confia em uma reversão da prisão domiciliar, considerada por ele “desproporcional” diante das acusações. “Nosso compromisso é defender o devido processo legal e garantir que o presidente possa responder em liberdade”, concluiu.
Até que o recurso seja analisado, Bolsonaro permanece monitorado por tornozeleira eletrônica, autorizado a receber apenas advogados e visitantes aprovados. A expectativa, nos bastidores, é de que novos parlamentares obtenham autorização-relâmpago já nos próximos dias, ampliando o apoio presencial ao ex-chefe de Estado.
Mesmo sob restrições, a movimentação política em torno da casa do ex-presidente confirma que Bolsonaro segue no centro do debate nacional. A reação de seus aliados, aliada à articulação no Congresso, torna a prisão domiciliar um capítulo decisivo na já turbulenta relação entre Supremo e Parlamento.
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