O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) informou ter se reunido, em 13 de agosto, com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent. O encontro ocorreu poucos dias depois de o governo norte-americano cancelar a reunião que seria realizada na mesma data entre Bessent e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Reunião divulgada nas redes
Pelo X (antigo Twitter), Eduardo Bolsonaro divulgou a fotografia ao lado de Scott Bessent e do comentarista Paulo Figueiredo, destacando a “excelente oportunidade” de discutir temas relativos ao Brasil e aos Estados Unidos. Sem revelar detalhes do conteúdo tratado, o deputado ressaltou o interesse em “fortalecer ainda mais os laços de amizade” entre os dois países.
A agenda foi mantida em sigilo até esta sexta-feira (16). O parlamentar, que atualmente reside nos Estados Unidos, tem mantido contato frequente com autoridades em Washington. Nas publicações, ele classificou Bessent como “alguém muito bem preparado” e apresentou o encontro como uma chance de aprofundar o diálogo bilateral.
Cancelamento da reunião com Haddad
Fernando Haddad confirmou, na segunda-feira (12), que a conversa previamente agendada com Scott Bessent foi desmarcada pelo governo dos Estados Unidos. Segundo o ministro, o cancelamento teria relação com articulação de Eduardo Bolsonaro. A declaração de Haddad não foi acompanhada de comprovação pública, mas gerou repercussão em Brasília.
Até a semana passada, Bessent era visto por integrantes da equipe econômica brasileira como interlocutor crucial para destravar negociações tarifárias com Washington. Uma fonte do próprio Ministério da Fazenda, em condição de anonimato, definia o secretário como “mais moderado” que outras autoridades vinculadas à gestão de Donald Trump e lembrava sua participação nas rodadas finais de discussão de tarifas com terceiros países.
Tarifas de 50% sobre produtos brasileiros
No início de agosto, os Estados Unidos impuseram tarifa adicional de 50% sobre uma série de itens de exportação brasileiros, como carne bovina, café, pescado e calçados. A medida foi justificada pelo governo Trump como resposta à alegada “caça às bruxas” judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. O acréscimo tarifário passou a valer já na semana seguinte ao anúncio.
Em entrevistas nos últimos dias, Eduardo Bolsonaro descreveu a sobretaxa como “remédio amargo” necessário para conter, segundo ele, uma ofensiva legal descontrolada contra seu pai. O deputado sustenta que o Brasil vive crise institucional e afirma buscar sensibilizar autoridades norte-americanas sobre a situação política interna.
Contexto político e articulação internacional
Além do diálogo com Bessent, Eduardo Bolsonaro tem participado de encontros com parlamentares e think tanks em Washington. O objetivo declarado é defender o ex-presidente, que responde a processos no Brasil, e apresentar a visão de que as investigações têm motivação política. O parlamentar não esconde a intenção de influenciar decisões econômicas e diplomáticas favoráveis ao país.
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Enquanto isso, o governo brasileiro pressiona pela revisão das tarifas. Técnicos da Fazenda argumentam que o aumento de 50% impacta setores responsáveis por milhares de empregos. No entanto, a interlocução direta entre Haddad e o Tesouro norte-americano foi interrompida após o cancelamento da agenda de 13 de agosto.
As negociações ficarão agora condicionadas a novos canais diplomáticos ou a uma eventual retomada de conversa com Bessent. Em Brasília, integrantes da equipe econômica avaliam que a visita de Eduardo Bolsonaro pode alterar o ritmo das tratativas, uma vez que o secretário do Tesouro optou por receber um membro da oposição interna em vez do ministro oficial do governo.
Próximos passos
Até o momento, não há confirmação de nova data para reunião entre Fernando Haddad e Scott Bessent. O Itamaraty, questionado sobre alternativas de interlocução, limitou-se a informar que segue acompanhando o tema em coordenação com a Fazenda. Nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro pretende agendar novos encontros para “manter aberto o diálogo” e sustentar sua defesa de maior alinhamento Brasil-EUA.
Com a tarifa adicional já em vigor, exportadores brasileiros aguardam definições. Empresas de proteína animal, produtores de café e fabricantes de calçados avaliam redirecionar parte da produção a outros mercados, enquanto monitoram os movimentos diplomáticos. A presença de um secretário do Tesouro receptivo a conversas com a oposição pode influenciar o rumo dessas negociações.
Nos bastidores, líderes do Congresso norte-americano observam o caso. A expectativa é de que qualquer revisão tarifária dependa da percepção de estabilidade política no Brasil. Nesse ambiente, a imagem transmitida pela reunião entre Eduardo Bolsonaro e Scott Bessent ganha peso, sinalizando abertura a vozes que criticam a condução das investigações contra o ex-presidente.
Resta saber se o gesto será suficiente para desbloquear as conversas suspensas ou se o impasse tarifário persistirá, pressionando produtores brasileiros enquanto a disputa política interna segue em curso.
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