Governadores alinhados à direita e ao centro-direita preparam um encontro reservado para esta quinta-feira (7), em Brasília. A reunião deve ocorrer no escritório do governo de São Paulo na capital federal, logo no início da tarde, e já conta com a confirmação de pelo menos dez chefes de Executivo estaduais. Entre os nomes confirmados estão Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Mauro Mendes (União Brasil-MT).
Foco no tarifaço e na relação com o STF
Segundo interlocutores, os governadores pretendem discutir dois temas principais: o impacto do recente tarifaço sobre importações e a crescente tensão institucional entre o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. A avaliação preliminar é que as medidas tarifárias podem afetar cadeias produtivas nos estados e comprometer investimentos já programados. Também há preocupação com decisões judiciais que, na visão dos participantes, ultrapassam o âmbito do Judiciário e interferem na autonomia dos entes federativos.
Mauro Mendes tem mantido discurso crítico ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atribuindo ao Planalto a falta de diálogo sobre comércio exterior e classificando como “desnecessárias” as ironias feitas por Lula ao comentar a alta de tarifas. Tarcísio de Freitas, por sua vez, após um período de atritos públicos com o governo federal, adotou tom mais conciliador nos últimos meses, defendendo “ambiente de segurança jurídica” para atrair investidores privados.
Composição do grupo e expectativa de agenda
Os convites para o encontro continuam abertos até a véspera. A organização trabalha com a presença de cerca de dez governadores, todos identificados com partidos de centro-direita ou direita. A pauta preliminar inclui:
- análise conjunta dos reflexos econômicos do aumento de tarifas;
- estratégias de atuação coordenada no Congresso sobre temas fiscais;
- posicionamento sobre decisões do STF que envolvem competências estaduais;
- troca de informações sobre modelos de concessão e parcerias público-privadas.
Fontes próximas a Tarcísio afirmam que o governador paulista pretende apresentar balanço de projetos de infraestrutura financiados com capital privado, usados como vitrine do modelo que o estado defende para o restante do país. Já Mauro Mendes deve levar números da balança comercial mato-grossense, especialmente do agronegócio, área diretamente afetada por mudanças tarifárias.
Ausência do governo federal
Até o momento, não há previsão de participação de representantes do Executivo nacional. Na semana passada, estava agendado em Brasília um encontro de governadores com o vice-presidente Geraldo Alckmin, articulado pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). A reunião acabou cancelada após vários estados sinalizarem que enviariam apenas emissários ou não poderiam comparecer. Os organizadores do encontro desta quinta-feira consideram que uma discussão restrita aos governos estaduais facilitará a construção de uma posição comum antes de eventual nova rodada de diálogo com o Planalto.
Contexto político recente
A relação entre Tarcísio de Freitas e o governo federal passou por momentos de tensão neste primeiro semestre. Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo enfrentou críticas de parte da base bolsonarista por avaliar projetos em parceria com a União. Ele reduziu o tom de confronto ao defender “cooperação institucional” e se concentrou em discussões com o setor privado. Mesmo assim, foi elogiado por aliados de direita pela rapidez com que reagiu à decisão judicial que autorizou prisão domiciliar de Bolsonaro, mobilizando a estrutura estadual para garantir o cumprimento das ordens legais sem exposições públicas.
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Mauro Mendes mantém linha mais dura. Além das críticas à condução econômica federal, o governador de Mato Grosso protesta contra o que considera “excesso de burocracia” em licenças ambientais nacionais que, segundo ele, travam projetos de infraestrutura no estado. Mendes afirma não ver disposição do governo Lula para flexibilizar regras que, alega, limitam a competitividade do agronegócio.
Próximos passos e possíveis desdobramentos
Ao término da reunião, a intenção é divulgar uma nota conjunta com pontos de convergência e sugestões legislativas. Integrantes do grupo não descartam formalizar um fórum permanente de governadores de perfil liberal-conservador, com encontros periódicos para alinhar posições sobre temas econômicos e institucionais. A criação desse espaço já foi debatida informalmente em ocasiões anteriores, mas nunca avançou para um calendário oficial.
Embora a pauta seja predominantemente econômica, a escolha de Brasília para o encontro ressalta o objetivo de influenciar a agenda do Congresso ainda neste segundo semestre. Deputados e senadores ligados aos governadores devem receber o resumo das deliberações logo após a reunião, com indicação de projetos prioritários. Parlamentares favoráveis ao corte de despesas e à revisão de subsídios federais são vistos como aliados naturais nesse processo.
Com a convergência de governadores de grandes colégios eleitorais, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul — cujos chefes do Executivo também foram convidados —, o grupo pretende fortalecer sua voz nas discussões sobre repartição de receitas. Na avaliação dos participantes, a reforma tributária aprovada no ano passado terá impactos ainda não totalmente quantificados nos caixas estaduais, o que exige acompanhamento conjunto.
A reunião desta quinta-feira, portanto, deve servir de primeiro passo para articulações mais frequentes entre administrações que partilham orientação econômica liberal e visão conservadora em temas institucionais. Ainda que os governadores mantenham agendas locais distintas, a coordenação promete ampliar a pressão por mudanças que, afirmam, garantam equilíbrio fiscal, segurança jurídica e respeito às competências estaduais.
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