Brasília — O governo Luiz Inácio Lula da Silva intensificou a presença em grandes veículos internacionais e em programas de alta audiência na televisão brasileira para reagir ao aumento de tarifas anunciado pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump. A estratégia combina entrevistas de Lula para mídia estrangeira e a participação do vice-presidente Geraldo Alckmin em atração popular, buscando apoio externo e interno diante do tema comercial.
Ofensiva em veículos globais
Em 17 de julho, Lula concedeu entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN International. Ao canal, o presidente declarou que Trump “não foi eleito para ser imperador do mundo” e defendeu que a relação bilateral “não pode continuar assim”. Lula também afirmou que, se fosse brasileiro, o ex-mandatário norte-americano “também seria julgado”.
Na mesma linha, o petista dialogou nesta semana com o The New York Times. Foi a primeira vez em 13 anos que ele conversou com o jornal. Lula disse tratar o assunto com “máxima seriedade, sem subserviência” e frisou que o Brasil não negocia como “país pequeno diante de um país grande”. Com essa entrevista, o Palácio do Planalto mirou diretamente o público dos Estados Unidos, onde se formam opiniões e decisões sobre política comercial.
Reforço doméstico comandado por Alckmin
Enquanto o presidente voltava sua mensagem para fora, o vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, assumiu o papel de tradutor doméstico. Ele participou do programa Mais Você, da TV Globo, apresentado por Ana Maria Braga. Responsável por explicar termos técnicos sobre tarifas e defesa comercial, Alckmin utilizou linguagem simples para detalhar possíveis impactos no bolso do consumidor brasileiro.
O Mais Você alcança milhões de lares e possui público majoritariamente feminino — grupo considerado decisivo na eleição de 2022. Ao escolher o matinal, o governo buscou reforçar narrativa favorável entre eleitores que acompanham economia do ponto de vista do dia a dia, longe do debate especializado.
Efeito nas pesquisas
Levantamentos divulgados recentemente indicam melhora na aprovação de Lula após o início da campanha de comunicação. Os números também apontam desempenho superior do presidente em simulações de primeiro e segundo turnos para o próximo pleito. No Planalto, a correlação direta entre a ida de Alckmin ao programa e a percepção positiva foi considerada um sinal de que a mensagem sobre soberania nacional chegou ao público-alvo.
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Imagem: Reuters via cnnbrasil.com.br
Integrantes do governo avaliam que a defesa contra o tarifaço precisa combinar argumentos técnicos e discurso político. Nos bastidores, interlocutores afirmam que novas aparições em meios populares não estão descartadas, inclusive com outros ministros, caso o tema volte a ganhar força.
Foco na soberania
Nas entrevistas internacionais, Lula reforçou a ideia de que o Brasil não aceita imposições unilaterais. Nos canais brasileiros, Alckmin repetiu o compromisso com a indústria nacional, enfatizando busca de acordos que protejam empregos sem abrir mão da previsibilidade para exportadores. O objetivo declarado é demonstrar que o governo reage de forma coordenada, tanto no front diplomático quanto na comunicação direta com o eleitor.
Até o momento, não há previsão de encontro entre Lula e Trump para tratar do assunto. Enquanto isso, a equipe econômica acompanha possíveis repercussões no comércio bilateral e prepara relatórios para subsidiar eventual contestação nas esferas competentes.
Com agendas voltadas a públicos distintos, o Planalto mantém a aposta em ações de mídia de grande alcance como instrumento principal para sustentar a narrativa de defesa da soberania econômica diante das tarifas impostas pelos Estados Unidos.
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