No ato realizado na Avenida Paulista neste domingo (3), o pastor Silas Malafaia voltou a centralizar as atenções entre os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Como principal organizador do encontro, o líder religioso dirigiu críticas diretas aos nomes mais cotados da direita para a eleição de 2026, mencionando de forma velada o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e os governadores Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ratinho Júnior (Paraná).
Pastor questiona ausência de possíveis candidatos
Diante de uma multidão reunida no coração financeiro da capital paulista, Malafaia lançou o desafio: “Cadê aqueles que dizem ser a opção no lugar de Bolsonaro? Cadê eles? Onde é que eles estão? Era para estarem aqui, minha gente”. Ao insistir na pergunta, o pastor concluiu que a ausência comprovaria, segundo ele, a “insubstituibilidade” do ex-presidente. “Até aqui, Bolsonaro é insubstituível”, destacou, recebendo aplausos.
Malafaia ampliou a crítica e insinuou que o Supremo Tribunal Federal (STF) seria o principal motivo do recuo dos governadores. “Estão com medo do STF, né? Por isso que não chegaram até aqui? Arrumaram desculpa”, discursou. O líder pentecostal afirmou que a postura dos ausentes reforça a tese de que, em suas palavras, “2026 é Bolsonaro”.
A fala atinge em cheio Tarcísio de Freitas, aliado direto do ex-presidente e apontado como um dos nomes mais viáveis para uma eventual sucessão. O governador paulista informou, na sexta-feira anterior, que passaria por um procedimento de radioablação por ultrassonografia de tireoide no Hospital Albert Einstein, justamente no horário do ato, impossibilitando a presença. Mesmo assim, o aviso não poupou o dirigente de críticas entre os manifestantes.
Críticas anteriores e clima de cobrança
As indiretas deste domingo foram precedidas por declarações incisivas na semana anterior. Em vídeos publicados nas redes sociais, Malafaia já havia cobrado publicamente Tarcísio, Zema, Caiado e Ratinho Júnior por não confrontarem o ministro Alexandre de Moraes, do STF. “Vocês já viram esses governadores alguma vez criticarem Alexandre de Moraes e a omissão do STF? Nunca! Só bravata política”, afirmou na ocasião.
No palanque da Avenida Paulista, o tom se repetiu. Malafaia classificou Moraes como “ditador” e associou eventuais ambições políticas dos governadores a uma suposta falta de coragem diante do Judiciário. A plateia reagiu com apitos, bandeiras e cânticos em apoio ao ex-presidente, transformando a manifestação em um recado direto aos quadros conservadores com pretensão nacional.
Ausência de governadores amplia disputa interna
Além de Tarcísio, nenhum outro chefe de Executivo estadual da chamada direita institucional confirmou presença. Ronaldo Caiado cumpriu agenda em Goiânia, Romeu Zema participou de eventos no interior mineiro e Ratinho Júnior permaneceu em Curitiba, segundo assessorias. Todos evitam tensão aberta com o Supremo no momento em que aguardam definições sobre inquéritos sensíveis na Corte.
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Nos bastidores, aliados dessas lideranças avaliam que a estratégia de distanciamento visa consolidar projetos próprios, longe da imagem do ex-presidente, cujo capital político permanece elevado entre os eleitores mais fiéis, mas enfrenta resistências em segmentos moderados. Enquanto isso, Malafaia reforça o discurso de que a base conservadora não aceita “meias-palavras” nem “neutralidade”, sobretudo em temas ligados à liberdade de expressão e ao julgamento de figuras próximas ao ex-chefe do Executivo.
Pressão sobre 2026 e recado ao eleitorado
A manifestação deste domingo representou mais um capítulo da disputa pela liderança do campo direitista. Com Bolsonaro impedido de disputar alguns cargos enquanto responde a processos no Tribunal Superior Eleitoral, nomes como Tarcísio, Zema e Caiado buscam espaço. Contudo, a cobrança pública de Malafaia expõe o dilema: marcar presença e correr o risco de atrito com o STF ou adotar perfil institucional e perder apoio da base bolsonarista.
Ao final do ato, organizadores avaliaram a adesão como “expressiva”, embora números oficiais não tenham sido divulgados. Entre faixas contra Moraes e discursos em defesa do ex-presidente, a mensagem de Malafaia foi clara: quem pretende herdar o eleitorado bolsonarista precisará se colocar na linha de frente das manifestações e assumir confronto direto com o Judiciário.
Nos próximos meses, a relação entre governadores de direita e as principais lideranças evangélicas será observada de perto. Para o eleitor conservador presente na Paulista, a exigência é nítida: postura firme contra o Supremo e fidelidade absoluta ao legado de Jair Bolsonaro. Resta saber até que ponto os presidenciáveis ausentes deste domingo estarão dispostos a seguir essa cartilha.
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