São Paulo, 3 de agosto – O prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), participou neste domingo do quinto ato em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro na Avenida Paulista. A manifestação foi classificada pelo gestor como pacífica e, segundo ele, motivada pela preocupação com punições que considera desproporcionais aplicadas a investigados pelos eventos de 8 de Janeiro.
Presença discreta e foco nas penas
Nunes chegou à Paulista acompanhado por assessores, permaneceu por cerca de uma hora e deixou o local antes do encerramento do discurso do pastor Silas Malafaia, último orador da tarde. O prefeito optou por não usar o microfone; a representação formal do Executivo municipal ficou com o vice-prefeito Coronel Mello Araújo (PL), indicado para o cargo por Bolsonaro em 2020.
Em declaração à imprensa, o chefe do Executivo paulistano justificou a participação: “Decidi ir por entender que é uma manifestação pacífica e para demonstrar preocupação com exageros que estão ocorrendo, como penas de 14, 15, 17 anos, prisão domiciliar e tornozeleira antes de condenação”.
A ausência de discursos do prefeito contrasta com a postura adotada em abril, quando Nunes falou no palanque e foi apresentado por Malafaia como “anfitrião” do evento. Já no ato de 29 de junho ele não compareceu, após debate interno de sua pré-campanha sobre a conveniência política da ida.
Autoridades ausentes e logística do evento
O ex-presidente Jair Bolsonaro acompanhou a mobilização de casa, em razão de medidas cautelares impostas pela Justiça. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) não pôde estar presente porque se recuperava de internação hospitalar. Com a dupla ausente, Malafaia conduziu a maioria das falas ao lado de parlamentares aliados.
Durante a tarde, manifestantes exibiram faixas contra decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e cartazes favoráveis à anistia de acusados pelos atos de 8 de Janeiro. Houve ainda menções de apoio ao deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Não foram registrados incidentes relevantes, segundo a Polícia Militar.
Evolução do público na Avenida Paulista
O Monitor do Debate Político do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap/USP) estimou 37,6 mil pessoas no ato deste domingo, alta de 203,6% em relação ao evento de 29 de junho, que reuniu 12,4 mil. A série histórica do instituto indica:
• 25 de fevereiro de 2024 – 185 mil participantes, o maior público da série;
• 6 de abril de 2024 – 44,9 mil;
• 29 de junho de 2024 – 12,4 mil;
• 3 de agosto de 2024 – 37,6 mil.
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Em 7 de Setembro de 2023, quando Bolsonaro ainda não era alvo das atuais restrições judiciais, o monitor registrou 45,4 mil pessoas.
Impacto eleitoral para Ricardo Nunes
Pré-candidato à reeleição em 2024, o prefeito busca manter diálogo com o eleitorado conservador sem afastar siglas do centro. Em 2022, parte dos bolsonaristas apoiou o adversário Pablo Marçal (PRTB), enquanto Bolsonaro alternava críticas e acenos a Nunes. Na composição da chapa municipal passada, o ex-presidente foi responsável pela indicação de Mello Araújo, hoje peça chave na relação com o campo da direita.
A participação pontual em atos na Paulista segue a linha adotada em 7 de Setembro do ano passado, quando Nunes subiu rapidamente no carro de som, tirou foto ao lado de Eduardo Bolsonaro, mas evitou discurso. Aliados avaliam que a estratégia permite sinalizar alinhamento a pautas de segurança jurídica e garantias individuais, sem se expor a eventuais desgastes caso a manifestação ganhe tom mais radical.
Próximos passos e debate sobre punições
A agenda do prefeito não prevê, por ora, novo comparecimento a mobilizações. Entretanto, integrantes da campanha afirmam que a defesa de “penas proporcionais” seguirá como bandeira, especialmente em debates que envolvem decisões do Supremo Tribunal Federal. O tema ganhou força após a divulgação de sentenças superiores a 15 anos para envolvidos nos protestos de 2023, além da adoção de tornozeleira eletrônica em regime domiciliar antes do trânsito em julgado.
Parlamentares alinhados a Bolsonaro articulam, na Câmara e no Senado, projetos de anistia e revisão processual. O desempenho dessas proposições deve influenciar futuras manifestações e a presença de líderes políticos, inclusive de Nunes, que vem medindo cada passo entre o centro e a base conservadora.
Com a campanha municipal prestes a entrar em fase decisiva, a postura do prefeito na Avenida Paulista mostra a tentativa de equilibrar a gestão da cidade com a sensibilidade de um eleitorado que reivindica garantias contra o que vê como excessos judiciais. A presença discreta, porém simbólica, mantém aberto o canal com esse público, enquanto o debate sobre penas e direitos constitucionais segue em pauta.
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