Brasília, 7 de agosto – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), protocolou pedido formal ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta quinta-feira (7), na residência onde o capitão reformado cumpre prisão domiciliar em Brasília.
Petição sustenta motivos políticos e humanitários
No documento de três páginas, Tarcísio afirma ser correligionário e amigo de longa data de Bolsonaro. O governador alega que há “razões político-institucionais e humanitárias” que justificam o encontro. Ele também se comprometeu a respeitar todas as condições impostas pelo STF caso a autorização seja concedida.
A solicitação foi encaminhada menos de 48 horas depois de Moraes determinar a prisão domiciliar do ex-presidente por suposto descumprimento de medidas cautelares. Na decisão que impôs o confinamento, o ministro proibiu Bolsonaro de utilizar telefone celular ou manter contato com investigados em inquéritos sobre os atos de 8 de janeiro.
Logo após receber o ofício de Tarcísio, Moraes encaminhou o pleito à defesa de Bolsonaro. O magistrado quer que os advogados informem se o ex-chefe do Executivo deseja receber o governador paulista e outros cinco políticos que também solicitaram visita, entre eles a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), e o deputado federal Luciano Zucco (PL-RS).
Moraes flexibiliza restrições para familiares
Na manhã desta quarta-feira (6), Moraes já havia autorizado a entrada de filhos, netos e cunhadas de Bolsonaro na casa do Lago Sul. Até então, apenas advogados tinham acesso liberado. A exceção fora concedida um dia antes ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), atendendo a pedido da defesa.
Com a nova decisão, o ministro manteve a restrição ao uso de telefone pelo ex-presidente, mas abriu brecha para visitas pontuais de familiares próximos. Políticos, porém, continuam dependendo de autorização individual.
Contato frequente interrompido pelo bloqueio de celular
Segundo auxiliares do Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio costumava falar com Bolsonaro pelo menos uma vez por semana, seja por ligação, seja por aplicativo de mensagens. O bloqueio do aparelho, imposto na mesma decisão que determinou a prisão domiciliar, suspendeu essa rotina. A visita presencial, portanto, tornou-se a alternativa encontrada pelo governador para manter o diálogo.
Reação de Tarcísio após a prisão domiciliar
Na noite de segunda-feira (4), poucas horas depois da ordem de Moraes, Tarcísio divulgou vídeo nas redes sociais classificando a medida como “absurda”. Ele declarou que Bolsonaro “foi julgado e condenado muito antes de tudo isso começar” e questionou: “Vale a pena acabar com a democracia sob o pretexto de salvá-la?” O governador ainda mencionou “uma tentativa de golpe que não aconteceu” e “acusações que ninguém consegue provar”.
As declarações repercutiram entre aliados. Uma ala do bolsonarismo avalia que Tarcísio adota tom mais moderado do que outros governadores de direita por atuar como interlocutor junto ao STF, especialmente com Moraes. Mesmo assim, figuras mais radicais, como o pastor Silas Malafaia, criticam a postura do paulista por não citar o ministro nominalmente em seus discursos.
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Trâmite e próximos passos
O protocolo da petição ocorreu no sistema eletrônico do STF na tarde de terça-feira (5). A defesa de Bolsonaro tem 24 horas para se manifestar sobre o interesse do ex-presidente em receber Tarcísio e os demais solicitantes. Caso o aceite seja confirmado, caberá a Moraes definir as condições da visita, incluindo horário, duração e eventual fiscalização da Polícia Federal.
Em paralelo, assessores do governador monitoram o andamento do pedido e mantêm contato com o gabinete do ministro para prestar informações adicionais, caso necessário. A expectativa no Palácio dos Bandeirantes é que a resposta seja conhecida ainda nesta quarta-feira.
Contexto político
Tarcísio de Freitas construiu sua carreira no governo Bolsonaro, onde comandou o Ministério da Infraestrutura. Eleito em 2022 para o governo paulista, permanece alinhado ao ex-presidente, mas busca preservar canais institucionais com o Supremo Tribunal Federal. Esse equilíbrio se tornou mais delicado após a prisão domiciliar, que intensificou a tensão entre aliados de Bolsonaro e o Judiciário.
O próprio STF enfrenta pressão de diferentes setores da sociedade. Parlamentares da oposição argumentam que a medida contra o ex-presidente extrapola limites constitucionais, enquanto defensores da decisão alegam necessidade de garantir a ordem pública e a investigação dos atos de 8 de janeiro.
Visitas futuras dependem de autorização prévia
Até uma deliberação definitiva, qualquer autoridade que queira se encontrar com Bolsonaro deverá encaminhar petição individual ao ministro relator. Moraes já sinalizou que analisará os pedidos caso a caso, condicionando a entrada ao consentimento do ex-presidente e ao respeito às restrições impostas.
Se autorizado, Tarcísio planeja chegar a Brasília na manhã de quinta-feira, acompanhado apenas por um assessor e segurança institucional do estado. A ida, segundo aliados, teria caráter protocolar e busca reforçar solidariedade ao líder político que o ajudou a se eleger.
Enquanto aguarda a decisão, o governador mantém agenda normal em São Paulo e evita entrevistas sobre o assunto. Nos bastidores, contudo, interlocutores próximos veem na visita um gesto simbólico de apoio num momento em que Bolsonaro enfrenta isolamento político e jurídico.
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