A Ferrari concluiu na semana passada, em Mugello, na Itália, uma sessão de testes focada em uma suspensão traseira revista. O trabalho envolveu os pilotos Lewis Hamilton e Charles Leclerc e foi programado para aproveitar a pausa no calendário da Fórmula 1 antes do Grande Prêmio da Bélgica, marcado para o fim de semana. A equipe busca recuperar performance e alcançar a primeira vitória na temporada.
A principal novidade é o reposicionamento da perna frontal do braço oscilante superior da suspensão traseira, agora instalada alguns centímetros mais baixa em comparação com o conjunto anterior. A alteração segue um conceito introduzido pela Mercedes no início do ano e posteriormente adotado pela McLaren. O novo desenho se soma à geometria de antimergulho aplicada na suspensão dianteira, estratégia destinada a limitar variações no ângulo do carro durante frenagens e acelerações.
Com menos movimento de pitch, a plataforma aerodinâmica tende a permanecer mais estável, permitindo que as forças geradas pelos elementos de fundo e difusor sejam mantidas de forma mais uniforme. Na prática, a redução do oscilamento de altura traseira entre trechos de baixa e alta velocidade oferece condições para que a altura estática seja calibrada em um nível mais baixo do que o usado até aqui.
Ao aproximar o assoalho do solo, sobretudo nas curvas lentas, a equipe espera elevar a downforce em toda a faixa de velocidades. Quando o difusor está mais distante do chão, o fluxo de ar sob o carro perde energia. Mantê-lo mais próximo da pista ajuda a conservar esse fluxo aderido às superfícies incumbidas de gerar pressão aerodinâmica.
A Ferrari pretende introduzir a nova suspensão já na etapa belga. A escolha foi tomada após as simulações em Mugello confirmarem o ganho de estabilidade buscado pelos engenheiros. O circuito de Spa-Francorchamps reúne longas retas, frenagens fortes e curvas rápidas, condições que permitem observar o comportamento do sistema nas transições de velocidade mais extremas do calendário.
Embora os benefícios aerodinâmicos sejam claros, a solução traz desafios operacionais. Ao reduzir a movimentação longitudinal, o piloto pode sentir o carro menos “comunicativo”, pois perde parte dos sinais normalmente usados para perceber transferência de peso sob frenagem ou tração. Essa característica exige período de adaptação e ajustes finos de acerto.
Outro ponto de atenção envolve o contato do assoalho com a pista. Uma altura estática inferior tende a aumentar a frequência de toque do plank, peça de madeira composta localizada sob o carro que serve como limitador de altura mínimo. O regulamento prevê desgaste máximo específico desse componente; exceder esse limite resulta em punições. Para evitar problemas, a Ferrari avalia ajustes de amortecedores e molas, elementos não visíveis externamente, que podem elevar a rigidez do conjunto e controlar oscilações em alta velocidade.
O trabalho em Mugello incluiu séries de voltas comparativas entre o pacote anterior e o atualizado. Dados de telemetria registraram a influência do novo braço oscilante em curvas de baixa, onde se espera ganho mais pronunciado, e em curvas de alta, cenário no qual a plataforma rígida precisa ser equilibrada com a necessidade de preservar a vida útil dos pneus.
Além da suspensão traseira, a equipe segue usando a geometria antimergulho na frente, parte do projeto apresentado no início da temporada. A combinação das duas soluções integra o esforço para estabilizar a atitude do carro em toda a extensão da volta, estratégia que também libera potencial do assoalho de efeito solo introduzido pelo regulamento de 2022.
Os engenheiros apontam que, caso o resultado em Spa seja positivo, o novo arranjo se tornará definitivo para o restante do campeonato. O calendário ainda inclui pistas de características variadas, como Zandvoort, Monza e Suzuka, o que garantirá uma amostra abrangente de dados antes do desenvolvimento do carro de 2025.
Lewis Hamilton, que se juntou à equipe nesta temporada, participou de trechos de teste destinados a avaliar a sensibilidade ao volante e a resposta do chassi com diferentes cargas de combustível. Charles Leclerc focou em simulações de corrida longa e verificou a interação da suspensão com diversos níveis de desgaste de pneus. Ambos relataram comportamento mais previsível nas entradas de curva, fator que se reflete em maior confiança para atacar pontos de frenagem.
O teste em Mugello encerrou-se sem incidentes significativos, permitindo à Ferrari direcionar os novos componentes para a fábrica em Maranello, onde serão preparados para o fim de semana belga. A escuderia também revisou procedimentos de montagem e mapeamento de câmbio, uma vez que a posição modificada do braço oscilante altera ligeiramente o alinhamento dos eixos de transmissão.
Se confirmada a introdução, a Ferrari se tornará a terceira equipe a adotar um braço superior rebaixado na suspensão traseira em 2024. O movimento indica tendência de desenvolvimento entre as principais concorrentes, todas empenhadas em reduzir variações de altura e maximizar o potencial aerodinâmico permitido pelo regulamento atual.
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