O campo conservador iniciou um processo interno para definir quem será o candidato presidencial em 2026. A estratégia, segundo articuladores, passa por reuniões presenciais com o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente em prisão domiciliar por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A construção do nome deve ocorrer de forma gradual, sem anúncio imediato, a fim de evitar desgaste prematuro do escolhido.
Reuniões presenciais substituem redes sociais
Bolsonaro, impedido de utilizar redes sociais, telefone celular ou de sair de casa, perdeu os principais instrumentos que utilizava para transferir capital político. Para contornar a restrição, lideranças de direita têm agendado visitas à residência onde o ex-chefe do Executivo cumpre a medida judicial, localizada em Brasília. Nessas conversas, são avaliadas alternativas de candidatura, prazos e formas de preservar a unidade do grupo.
A impossibilidade de comunicação digital criou um desafio inédito. Até 2022, grande parte da mobilização conservadora ocorria em plataformas como X (antigo Twitter), Facebook, Instagram e WhatsApp. Agora, qualquer posicionamento de Bolsonaro depende de encontros pessoais, o que reduz alcance e velocidade de disseminação de mensagens. Mesmo assim, interlocutores consideram a participação do ex-presidente indispensável, sob o argumento de que ele detém o maior eleitorado orgânico da direita.
Equilíbrio entre urgência e prudência
Entre deputados, senadores, governadores e dirigentes partidários existe consenso de que a escolha não pode ser adiada além do razoável, para evitar que a esquerda ocupe espaço na narrativa eleitoral. Ao mesmo tempo, avaliadores alertam que antecipar o anúncio poderia concentrar ataques sobre o futuro candidato durante tempo excessivo. Portanto, a ordem interna é construir um nome com calma, mas sem paralisar as agendas estaduais e regionais.
A família Bolsonaro mantém a defesa pública de uma candidatura do próprio Jair, apostando em eventual reversão das restrições judiciais. Contudo, integrantes mais próximos reconhecem que é prudente trabalhar alternativas, caso o ex-presidente permaneça inelegível. Entre os cotados surgem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Ambos já manifestaram lealdade política, mas evitam declarações antecipadas sobre 2026.
Visitas como termômetro político
As idas à residência de Bolsonaro têm dupla função. Primeiramente, servem para demonstrar apoio público ao ex-mandatário, sinalizando coesão do campo conservador diante das medidas impostas pelo Judiciário. Em segundo plano, as conversas permitem testar a receptividade do ex-presidente a diferentes nomes e propostas de campanha. Segundo participantes, não há cronograma fechado: as reuniões ocorrem conforme disponibilidade de agenda e exigem aprovação prévia da Polícia Federal, responsável por fiscalizar o cumprimento da prisão domiciliar.
Parlamentares envolvidos mencionam que, apesar das limitações impostas, a atmosfera dos encontros é objetiva. Relatos indicam que Bolsonaro pede relatórios sobre cenário econômico, alianças regionais e desempenho de governos estaduais alinhados ao seu legado. Essas informações subsidiam a orientação que ele pretende oferecer ao escolhido, reforçando a intenção de atuar como mentor político mesmo sem acesso direto às bases digitais.
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Nó logístico e risco de exposição
A sucessão conservadora enfrenta ainda um obstáculo logístico: o fluxo constante de visitantes aumenta a visibilidade da residência, o que implica maior vigilância e eventuais protestos de opositores. Para evitar tumultos, os horários das visitas são mantidos sob sigilo, e a maioria das reuniões ocorre fora do horário comercial. Assessores jurídicos monitoram cada movimento, temendo interpretações de descumprimento das regras impostas pelo Supremo.
Do ponto de vista eleitoral, a estratégia busca demonstrar resiliência. Exibir figuras de peso entrando na casa de Bolsonaro sinaliza que a liderança dele se mantém viva, mesmo limitada. Ao mesmo tempo, a ausência dele nas redes gera preocupação quanto à capacidade de empolgar o eleitorado jovem, habituado a interações instantâneas. Por isso, congressistas estudam formas legais de replicar publicamente os recados proferidos nos encontros, sem violar determinações judiciais.
Próximos passos
Embora não exista data exata para o anúncio de um nome, dirigentes partidários admitem que o primeiro semestre de 2025 será decisivo. Caso a inelegibilidade de Bolsonaro seja mantida, a transferência de voto precisará ser acelerada. Integrantes da coordenação política defendem a criação de um conselho consultivo, composto por senadores e governadores aliados, para operacionalizar a pré-campanha do indicado.
Até lá, o roteiro inclui ampliação das visitas ao ex-presidente, consolidação de palanques estaduais e busca de alianças no centro-direita. A meta é apresentar ao eleitorado uma candidatura compacta, alinhada às pautas econômicas liberais e aos valores conservadores de costumes. Mesmo sob vigilância, Bolsonaro continua a ser o polo em torno do qual a direita pretende se reorganizar para o pleito de 2026.
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