Brasília, 3 set. 2025 – O depoimento de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), expôs suspeitas de conluio entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, durante as investigações eleitorais de 2022 e os desdobramentos de 8 de janeiro. As declarações, prestadas à Comissão de Segurança Pública do Senado por videoconferência a partir da Itália, levaram parlamentares da oposição a pedir a suspensão imediata do processo que julga o ex-presidente Jair Bolsonaro e demais réus.
Acusações de “jogo combinado” entre TSE e PGR
Tagliaferro relatou que Moraes e Gonet teriam selecionado previamente alvos de investigações, produzido documentos com datas retroativas e usado relatórios informais para justificar mandados de busca, apreensão e prisões. Segundo o ex-assessor, parte das ordens chegava por e-mail pessoal ou mensagens de WhatsApp, sem registro oficial. Ele apresentou à comissão arquivos digitais e prints de conversas que, de acordo com sua versão, demonstram a preparação de pacotinhos com listas de 100 a 200 investigados enviados a tribunais regionais.
Entre os exemplos citados, constam operações contra empresários simpatizantes de Bolsonaro em 2022, supostamente autorizadas apenas com base em matérias jornalísticas. Tagliaferro afirma que relatórios artificiais, datados retroativamente, ingressaram nos autos após a execução das diligências, caracterizando fraude processual.
O gabinete de Moraes reagiu em nota: reiterou que todos os atos constam dos autos, seguem normas regimentais e resultam do poder de polícia do tribunal para coibir tentativas de golpe de Estado e ataques a instituições democráticas. Até o fechamento desta reportagem, Paulo Gonet não havia se manifestado.
Reação imediata da oposição
As denúncias deram novo fôlego a senadores e deputados alinhados à direita. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) declarou que o julgamento no STF apresenta “vício insanável” e defendeu a paralisação dos processos. O senador Marcos Rogério (PL-RO) qualificou o conteúdo como evidência de esquema comandado por Moraes e pediu investigação da situação jurídica de Tagliaferro, atualmente autoexilado.
No âmbito da Câmara, o líder da oposição, Luciano Zucco (PL-RS), anunciou que utilizará o depoimento para pressionar pela votação do projeto de anistia aos réus de 8 de janeiro. A deputada Caroline de Toni (PL-SC) considerou o caso “gravíssimo” e exigiu providências. Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em viagem aos Estados Unidos, classificou a sessão no Senado como “explosão do regime de Lula e Moraes”.
O presidente da Comissão de Segurança, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), encaminhou solicitação à advocacia do Senado para remeter relatório das denúncias ao presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e a organismos internacionais. A comissão promete anunciar as primeiras medidas nesta quinta-feira (5).
Possíveis efeitos sobre o julgamento de Bolsonaro
O depoimento ocorreu enquanto o STF prossegue o julgamento que envolve Jair Bolsonaro na chamada trama golpista. Moraes, relator da ação, e Gonet, autor da denúncia, apresentaram manifestações convergentes na abertura da sessão: o PGR defendeu condenação com caráter pedagógico; Moraes destacou a legalidade do processo e negou abusos.
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Imagem: Gustavo Moreno
Para juristas críticos, entretanto, as revelações de Tagliaferro podem comprometer a credibilidade das decisões caso sejam comprovadas. O professor de Direito Constitucional André Marsiglia avalia que, se confirmadas, as acusações exigem suspensão dos processos sob tutela de Moraes e seu afastamento temporário. Ele considera “crimes graves” a criação de documentos retroativos e o monitoramento político de cidadãos.
Próximos movimentos no Congresso
Senadores articulam a ida de uma comitiva à Itália para garantir proteção a Tagliaferro e coletar novos elementos. O senador Magno Malta (PL-ES) iniciou contato com autoridades italianas. Ao mesmo tempo, parlamentares pretendem liberar todos os documentos entregues pelo ex-assessor às defesas de investigados, abrindo caminho para questionamentos formais no STF.
Analistas avaliam que a Corte dificilmente alterará sua agenda, mas a pressão legislativa pode impulsionar o projeto de anistia e outros temas de interesse da oposição. A possibilidade de envolver organismos internacionais amplia a exposição do caso e reforça a narrativa de perseguição a figuras da direita.
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Este relato reúne os principais fatos apresentados na audiência do Senado, as reações de deputados e senadores e a posição oficial do gabinete de Alexandre de Moraes. Caso as investigações confirmem as denúncias, o STF poderá enfrentar questionamentos sobre a validade de decisões recentes. Acompanhe as atualizações e compartilhe a matéria para manter o debate informado.
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