Uma pesquisa nacional do instituto Ipsos-Ipec indica que a maior parte da população atribui caráter político à tarifa extra de 50% anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump sobre produtos brasileiros. O levantamento, realizado entre 1º e 5 de agosto com 2 mil entrevistados em 132 municípios, revela ainda que não há consenso sobre a resposta que o Brasil deve adotar frente ao aumento de tarifas.
Percepção sobre a motivação do tarifaço
De acordo com os dados, 75% dos brasileiros enxergam motivação política na decisão de Washington, 12% consideram a medida essencialmente comercial, enquanto 5% apontam as duas razões. Outros 8% não souberam ou preferiram não responder. O anúncio de Trump, feito em carta no mês passado, mencionou questões comerciais e, sobretudo, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no processo que investiga tentativa de golpe de Estado.
A visão de que a taxação tem viés político é ampla tanto entre eleitores de Bolsonaro (73%) quanto entre os de Luiz Inácio Lula da Silva (79%). O percentual sobe para 80% na faixa etária de 45 a 59 anos e atinge 77% no Nordeste. Nas regiões Norte/Centro-Oeste e Sul, o índice fica em 71% e 72%, respectivamente.
Quando observado o rendimento familiar, a percepção é mais forte entre quem ganha até um salário mínimo, com 77% das respostas. Nos grupos que recebem de dois a cinco salários, o mesmo patamar é registrado; já entre aqueles com renda acima desse nível, 70% apontam motivação política.
O resultado reforça a avaliação de que a medida dos Estados Unidos gerou desgaste diplomático para o governo brasileiro. A ausência de um acordo, segundo analistas, amplia o risco de perdas econômicas e de isolamento internacional.
Retaliação divide opiniões
Questionados sobre a postura que o Brasil deveria adotar, os entrevistados se mostraram divididos. Uma retaliação na mesma moeda, com tarifas equivalentes sobre produtos norte-americanos, recebe apoio total de 33% dos participantes e apoio parcial de 16%. Em sentido oposto, 30% rejeitam completamente a ideia, enquanto 13% discordam em parte. Outros 7% não responderam.
A clivagem política é evidente. Entre os eleitores de Lula, 61% aprovam uma resposta dura. Já entre os apoiadores de Bolsonaro, 56% se posicionam contra sanções equivalentes. Regionalmente, a retaliação é defendida por 58% dos moradores do Norte/Centro-Oeste e por 55% dos jovens de 16 a 24 anos. Na região Sul, 52% se colocam contra novos impostos sobre produtos americanos.
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Em termos de renda, o apoio mais expressivo a tarifas de resposta aparece no grupo com renda familiar entre um e dois salários mínimos (50%). Nos demais estratos, o apoio cai abaixo da maioria absoluta.
Imagem dos Estados Unidos e busca por novos parceiros
O levantamento identificou impacto moderado na percepção geral sobre os Estados Unidos. Para 38% dos entrevistados, a imagem do país piorou após a medida de Trump; 6% afirmam que melhorou; e 51% dizem que permanece igual. Os que não responderam somam 5%.
Apesar do abalo, o desejo de diversificar parcerias comerciais cresce entre os brasileiros. 68% defendem priorizar acordos com outras nações, citando China e União Europeia como principais alternativas, contra 25% que preferem manter proximidade com Washington. O grupo indeciso representa 8%.
Quanto ao cenário internacional, 60% acreditam que a condução da crise expõe o Brasil a um possível isolamento, ao passo que 32% discordam dessa leitura. A percepção de isolamento é sensível para a política externa do governo, que tenta equilibrar interesses comerciais diante da tensão com o principal parceiro do hemisfério.
O estudo possui margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%. Os números mostram que, embora a maioria reconheça a motivação política na atitude de Trump, não há unanimidade sobre como o país deve reagir. A divisão reflete diferenças regionais, socioeconômicas e eleitorais, evidenciando desafios para a formulação de uma estratégia comercial que proteja empregos e investimentos nacionais sem agravar disputas internacionais.
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