A Câmara dos Deputados promoveu, na manhã desta segunda-feira (25), uma sessão solene dedicada ao 33º aniversário da independência da Ucrânia. O ato, solicitado e conduzido pelo deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), evidenciou a disposição do Parlamento brasileiro em estreitar relações com Kiev, apesar da postura oficial do Palácio do Planalto, que mantém linha de diálogo favorável ao presidente russo, Vladimir Putin.
Deputado ressalta laços históricos e defesa da liberdade
Filho de família ucraniana, Bilynskyj abriu a cerimônia relembrando o engajamento do avô na Segunda Guerra Mundial e traçando paralelo entre a luta da Ucrânia contra o totalitarismo soviético e os desafios atuais enfrentados pelo Brasil. “É impossível celebrar a independência da Ucrânia sem reconhecer a mesma batalha pela liberdade que travamos em nosso país”, afirmou.
Ao longo do discurso, o parlamentar criticou as posições do Executivo federal, classificando a guerra iniciada por Moscou como invasão ilegítima. Na avaliação dele, a ausência de condenação explícita por parte do governo petista estimula regimes autoritários e mina a credibilidade do Brasil no cenário internacional.
Diplomatas e entidades cobram reconhecimento do Holodomor
A sessão contou com a presença de representantes das embaixadas dos Estados Unidos e da Polônia, além de membros da comunidade ucraniana. O presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira (RCUB), Roberto André Oresten, reforçou a necessidade de o Brasil reconhecer oficialmente o Holodomor — a política de fome imposta pelo regime soviético que matou milhões na década de 1930. “Esse gesto consolidaria a confiança de mais de um milhão de descendentes de ucranianos que vivem aqui”, destacou.
Para Oresten, o reconhecimento formal do genocídio representaria alinhamento aos valores ocidentais de respeito aos direitos humanos e à autodeterminação dos povos, princípios que, segundo ele, “não podem ser relativizados em nome de interesses ideológicos”.
Ucrânia elogia diplomacia parlamentar e critica “pragmatismo”
O encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia no Brasil, Andrii Borodenkov, agradeceu a iniciativa da Câmara e salientou a importância dos laços “entre povos e Parlamentos” diante do silêncio do Poder Executivo. Ele alertou para o uso recorrente da palavra “pragmatismo” nas chancelarias que procuram se manter neutras. “No futuro, a história julgará quem esteve do lado do bem e quem se posicionou ao lado do mal”, advertiu.
Borodenkov afirmou que a resistência ucraniana se mantém graças ao apoio de nações comprometidas com a liberdade e disse esperar que o Brasil se coloque “claramente” contra a agressão russa. O diplomata classificou a diplomacia parlamentar como instrumento legítimo para contornar bloqueios quando governos hesitam em defender valores universais.
Contraste com a política externa do governo Lula
Desde o início da guerra em fevereiro de 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por discurso de “equidistância”, ao mesmo tempo em que promove encontros cordiais com Putin e responsabiliza Kiev e Otan pela escalada do conflito. A posição gerou críticas de aliados ocidentais e abriu espaço para o Legislativo assumir protagonismo, criando pontes diretas com o governo ucraniano e expondo fissura na política externa nacional.
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Imagem: Kayo Magalhaes
No caso de Israel, cenário semelhante ocorreu quando o Itamaraty tensionou relações ao comparar ações israelenses a atos de violência extrema, iniciativa também contestada pelo Congresso. O movimento confirma a crescente relevância da diplomacia parlamentar em temas nos quais o Planalto adota alinhamento considerado desfavorável a democracias liberais.
Atos de apoio em capitais brasileiras
No domingo (24), véspera da sessão, manifestações foram registradas em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Organizadores denunciaram a recusa do Kremlin em negociar o fim das hostilidades, mesmo após pressão internacional. Os atos buscaram sensibilizar a opinião pública brasileira sobre a responsabilidade de Moscou e reforçar a necessidade de solidariedade concreta ao povo ucraniano.
Próximos passos e possíveis desdobramentos
Deputados de diferentes bancadas articulam agora a criação de um grupo parlamentar Brasil-Ucrânia permanente, destinado a impulsionar acordos de cooperação tecnológica, agrícola e educacional. Também está em estudo a apresentação de projeto de lei para reconhecer o Holodomor como genocídio, posicionando o país ao lado de Estados Unidos, Canadá e diversas nações europeias.
Enquanto isso, o governo ucraniano segue aguardando resposta a sucessivos pedidos de reunião entre o presidente Volodymyr Zelensky e o chefe do Executivo brasileiro. Caso o Planalto mantenha resistência, parlamentares sinalizam disposição para visitas oficiais a Kiev e participação em fóruns internacionais de apoio à reconstrução da Ucrânia.
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Em resumo, a sessão solene reforçou a autonomia do Legislativo e evidenciou o contraste entre a maioria parlamentar, alinhada a valores ocidentais, e a diplomacia do governo Lula, vista como indulgente com regimes autoritários. Continue acompanhando nosso portal e receba em primeira mão as próximas decisões que podem redefinir a posição do Brasil na crise do Leste Europeu.
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