NOVA IORQUE — Fundada em 1945 com a missão de proteger as gerações futuras do flagelo da guerra, a Organização das Nações Unidas chega aos 80 anos sob pressão crescente por mudanças estruturais. Dados de 2024 apontam o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial, sinalizando que o sistema concebido no pós-guerra perdeu capacidade de prevenir crises e garantir estabilidade internacional.
O legado: evitar uma terceira guerra, mas falhar na contenção de conflitos
O principal êxito da ONU ainda é a ausência de um confronto global equivalente aos dois grandes conflitos do século XX. Nenhum dos 193 países que hoje integram o organismo enfrentou uma terceira guerra mundial, fato celebrado por diplomatas na última Assembleia Geral.
Ao mesmo tempo, o aumento recorde de conflitos regionais evidencia limitações claras. Dezenas de disputas em andamento, algumas prolongadas por anos, desafiam a promessa original de “preservar a paz”. O contraste entre o histórico de vitórias diplomáticas pontuais, como acordos de cessar-fogo temporários, e a incapacidade de impedir escaladas recentes reabre o debate sobre o formato de governança da entidade.
Conselho de Segurança paralisado pelo veto das potências
O centro das críticas recai sobre o Conselho de Segurança, órgão responsável por decisões vinculantes. Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França dispõem de assentos permanentes e poder de veto, prerrogativa que historicamente bloqueia resoluções mesmo em crises consideradas consensuais, como a do Haiti. A multiplicidade de interesses nacionais desses cinco atores dificulta a adoção de medidas efetivas, gerando impasses frequentes.
A ascensão da China a potência econômica e militar intensificou a disputa estratégica com os EUA. Washington, sentindo perda de influência, reduziu participação em agências cruciais durante a administração Trump, abandonou organismos como a UNESCO e suspendeu parte dos repasses financeiros — contribuição que responde por 22 % do orçamento da ONU. A postura americana, somada à atenção prioritária de Pequim a seus próprios projetos, fragmenta ainda mais a tomada de decisões.
Mudança no equilíbrio de poder e desgaste do multilateralismo
A ordem internacional que vigorava em 1945 mudou: novas potências surgiram, alianças foram redesenhadas e tecnologias militares avançadas alteraram completamente o cenário estratégico. Quando grandes países colocam interesses particulares acima de tratados assinados, o exemplo se multiplica. Situações como a invasão russa à Ucrânia, a disputa americana pelo controle de rotas estratégicas e a pressão chinesa no Mar do Sul da China ilustram a tendência de cada nação priorizar sua própria agenda, mesmo contrariando normas multilaterais.
Especialistas alertam que, sem respeito à soberania alheia e às convenções internacionais, o sistema de regras fica fragilizado. A consequência direta é a proliferação de conflitos locais, migratórios e humanitários, exigindo recursos adicionais de paz e reconstrução que a ONU já tem dificuldade para mobilizar.
Princípios fundadores em teste e proposta de refundação
A Carta das Nações Unidas estabelece igualdade entre Estados, autodeterminação dos povos, promoção efetiva dos direitos humanos e desenvolvimento econômico. Ignorar esses valores aumenta tensões e compromete a busca de soluções pacíficas. Vozes dentro da própria organização defendem uma “refundação” que atualize estruturas, amplie a representatividade e limite vetos capazes de paralisar ações urgentes.
Para analistas militares brasileiros, o país pode exercer papel relevante nesse processo, lembrando aos demais membros os ideais que inspiraram a criação do organismo. Uma reforma profunda, contudo, depende de consenso entre as grandes potências — exatamente o grupo que mais se beneficia do arranjo atual.


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Imagem: Patrick Gruban
Desafios imediatos e cenário futuro
Sem ajustes, a ONU corre o risco de ver sua autoridade esvaziada em meio a disputas bilaterais e coalizões paralelas. A alternativa mais citada é uma revisão completa do Conselho de Segurança, incluindo novos assentos permanentes, regras de votação menos vulneráveis ao veto e exigência de compromissos de financiamento proporcionais.
As negociações, no entanto, esbarram em resistências históricas. EUA, Rússia e China, detentores de arsenais nucleares e influência global, demonstram cautela diante de qualquer iniciativa que reduza suas prerrogativas formais.
Oito décadas depois de São Francisco, a ONU segue relevante como fórum diplomático, mas seu sistema decisório revela fadiga. A permanência dessa estrutura, sem adequações, pode levar a organização a uma crise de legitimidade justamente no momento em que a comunidade internacional precisa de ferramentas eficazes para conter conflitos complexos.
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Em resumo, a ONU chega aos 80 anos com um saldo que mescla o sucesso de evitar nova guerra mundial e o fracasso em reduzir contendas regionais. A demanda por refundação cresce, e o debate sobre como executar mudanças estruturais deve intensificar-se nos próximos meses. Acompanhe nossas atualizações e entenda como essas discussões podem impactar a segurança global e os interesses brasileiros.
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