Brasília, 1º de dezembro – O Partido dos Trabalhadores (PT) aprovou um documento que solicita ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o rompimento imediato das relações diplomáticas e comerciais do Brasil com Israel. A decisão foi tomada durante o 17º Encontro Nacional da sigla, realizado nesta sexta-feira.
Resolução “Em defesa do povo palestino”
O texto, intitulado Em defesa do povo palestino, reforça apoio irrestrito à população da Faixa de Gaza e condena as ações militares israelenses no território. Segundo a resolução, “há um elevado número de civis palestinos mortos”, situação que o partido classifica como “genocídio premeditado”, em referência a declaração feita por Lula em junho.
Na carta, o PT afirma que o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é acusado de crimes de guerra “até por ex-embaixadores e ex-primeiros-ministros israelenses”. O texto menciona denúncias de “assassinato de civis desarmados e famintos que buscam auxílio humanitário e recebem balas e bombas”.
Além disso, a resolução cita posicionamento do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), divulgado em junho, que já pedia a quebra das relações diplomáticas com Israel. Para o PT, esse precedente reforça a necessidade de uma ação mais dura por parte do governo brasileiro.
Pressão interna e cenário internacional
O documento aprovado no encontro partidário aumenta a pressão sobre o Palácio do Planalto em um momento de elevado desgaste nas relações entre Brasília e Tel Aviv. Em junho, Lula acusou Israel de praticar genocídio contra palestinos; agora, líderes petistas querem que essa avaliação se traduza em medidas concretas de política externa.
Paralelamente, o Ministério das Relações Exteriores anunciou que o Brasil ingressará como parte interessada na ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça. O chanceler Mauro Vieira confirmou a decisão em entrevista à emissora Al-Jazeera, afirmando que “os últimos desdobramentos da guerra nos levaram à decisão de nos juntarmos à África do Sul”.
Com o posicionamento oficial do Itamaraty, o pedido do PT ganha novo peso dentro do governo. A adesão à ação na Corte reforça o discurso de que as medidas tomadas até o momento são insuficientes diante da escala do conflito em Gaza.
Relações comerciais sob questionamento
Ao pedir o corte de laços diplomáticos e comerciais, a cúpula petista mira diretamente o intercâmbio bilateral. Embora o governo não tenha se manifestado sobre o tema específico da ruptura, a moção aprovada expõe divergências internas sobre a forma de lidar com Israel.
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Integrantes do partido defendem que a suspensão de relações seja adotada como “instrumento de pressão” para forçar um cessar-fogo e permitir entrada de ajuda humanitária. No entanto, a decisão final depende do presidente da República, que até agora não indicou se acatará a recomendação.
Próximos passos
Com a resolução nas mãos, Lula terá de decidir se transforma o apelo partidário em política de Estado. Caso opte pela ruptura, o Brasil deverá fechar embaixadas, suspender acordos comerciais e rever participação em fóruns bilaterais com Israel. A medida também provocaria impactos na diplomacia regional e nas relações com parceiros ocidentais.
Até o momento, o Planalto mantém silêncio sobre o assunto. A expectativa é que a decisão seja discutida no âmbito do Conselho de Governo, responsável por aconselhar o presidente em temas sensíveis da agenda externa.
Enquanto isso, o PT busca apoio de organizações da sociedade civil e de bancadas alinhadas ao partido no Congresso para ampliar a pressão por uma resposta rápida. Nos bastidores, parlamentares petistas argumentam que a continuidade das relações com Israel seria incompatível com a retórica adotada por Lula desde o início do conflito.
Embora a ruptura ainda não esteja confirmada, o pedido formal do PT marca um novo grau de tensão na diplomacia brasileira e coloca o presidente diante de uma escolha que poderá redefinir a postura do país no Oriente Médio.
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