Sebastião Bugalho, eleito para o Parlamento Europeu em 2024, consolidou a sua projeção nacional ao substituir o primeiro-ministro Luís Montenegro em parte da volta pelas autarquias e ao percorrer mais de 80 municípios a convite de dirigentes locais do PSD.
Substituições estratégicas na campanha autárquica
Nas duas últimas semanas, o eurodeputado participou em agendas que, tradicionalmente, cabem à direção do partido. Durante um dia inteiro e metade de outro, Bugalho assumiu o papel reservado ao secretário-geral Hugo Soares, que costuma suprir a ausência de Montenegro quando o chefe de Governo está retido em funções executivas. A decisão, chancelada pela dupla Montenegro-Soares, conferiu ao ex-jornalista um estatuto de “número três” informal, sem alterar a hierarquia formal do PSD.
A presença de Bugalho contou com a estrutura completa de comunicação social do partido. Discursos transmitidos em direto nas redes do PSD destacaram a participação do eurodeputado em eventos lotados em Águeda, Viseu e Covilhã. Ao público, o deputado europeu manteve postura protocolar: “Substituo pontualmente o secretário-geral, não o presidente do partido”. Ainda assim, a circulação constante ao lado de candidatos locais consolidou reconhecimento interno e fortaleceu laços com bases municipais.
Ataques diretos ao PS marcam a agenda de Bugalho
Aproveitando cada comício, Bugalho lançou críticas ao líder socialista José Luís Carneiro. Em Águeda, recordou que se completavam três meses à frente do PS e classificou como “estranho” o pedido de pactos de regime enquanto acusava o Governo de proximidade ao Chega. O eurodeputado questionou a coerência de Carneiro, listou supostas imprecisões sobre os Açores e comparou a mobilização de público em eventos dos dois partidos: “Aqui sabemos quantas ilhas existem”, alfinetou.
A resposta veio no dia seguinte. Carneiro afirmou que o social-democrata “tem muito a aprender”, mencionou a juventude do adversário e chegou a apontar o salário de eurodeputado para ironizar sobre política de rendas. Em nova intervenção, Bugalho manteve o foco nas propostas habitacionais do Governo e voltou a desafiar o PS sobre a disponibilidade de moradias.
Agenda paralela e apoio explícito da liderança
Mesmo após o regresso de Montenegro à campanha, Bugalho manteve compromissos próprios, percorrendo o Seixal, Odivelas e arruadas com o prefeito lisboeta Carlos Moedas. Na visita a obras de habitação em Carcavelos, ouviu de um engenheiro que sua carreira “é sempre a subir”. Ao ser questionado sobre ambições, limitou-se a mencionar o mandato europeu recém-iniciado.
Montenegro, presente em ações na Amadora, descreveu o aliado como “quadro altamente qualificado” e recordou que assinou a filiação partidária de Bugalho. O primeiro-ministro ressaltou a importância de “conhecer o território” para quem almeja responsabilidades nacionais, mas negou planejar saída antecipada da liderança.
Críticas internas sobre ausências em Bruxelas
A intensa agenda portuguesa obrigou Bugalho a faltar à sessão plenária desta semana em Estrasburgo. Dirigentes do PSD relativizam: outros eurodeputados, como Catarina Martins e João Cotrim Figueiredo, também se afastarão para campanhas presidenciais. Contudo, o ex-deputado Miguel Morgado, hoje comentador, questionou a utilidade de representantes que “passam o tempo em Portugal” e sugeriu que a movimentação prepara sucessão a longo prazo dentro do partido.
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Imagem: Internet
Fontes próximas da direção argumentam que a notoriedade do eurodeputado reforça candidatos locais e amplia a base social-democrata, justificando o investimento na sua imagem. Bugalho, por sua vez, segue defendendo que “o que conta são os votos, não os quilômetros percorridos”. Até o encerramento da campanha autárquica, a expectativa é de que ultrapasse a marca de 80 municípios visitados, número elevado para um estreante em Bruxelas.
Em síntese, a estratégia do PSD de projetar Sebastião Bugalho em roteiros municipais elevou o eurodeputado a protagonismo inédito, garantiu visibilidade contra o PS e alimentou debate interno sobre a presença de representantes em Bruxelas. O desenrolar das autárquicas mostrará se o investimento renderá ganhos eleitorais imediatos e consolidará o caminho ascendente do jovem quadro social-democrata.
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